Chegou mesmo o dia em que decidiu escrever um livro. Porque, de acordo com o que todos dizem por aí sobre a vida e a felicidade, parece que uma pessoa só se sente plena quando cumpre três etapas em sua existência: planta uma árvore, tem um filho e escreve um livro.
Pois então, as duas primeiras etapas já estavam concluídas e essa sensação de plenitude nem despontava na pontinha de um fio sequer de seus cabelos. Talvez fosse mesmo o que faltava: escrever o tal livro.
Mas por onde começaria?
Há tempos não escrevia uma carta, ao menos... Apenas recados rápidos em redes sociais virtuais, lembretes na geladeira, mensagens para celulares conhecidos, legendas das fotos do álbum de seu tesouro, observações nos trabalhos de seus alunos, diários de classe.
Um livro era diferente. Era coisa que desejava mas a assustava.
Com a disciplina que sempre marcou seu caráter, definiu que todas as noites escreveria algo em sua agenda nunca usada de 2008, com a intenção de treinar; de escrever e pensar sobre o que escreveu. Achou que esse seria o primeiro passo rumo ao livro, sinônimo imediato de plenitude e, então, felicidade.
Mal sabia onde estava se metendo!
Seria muita ousadia pensar que era capaz de imaginar histórias que outros sentiriam prazer em ler? Ou seria um livro didático? Poemas? O caminho era a ficção? Ou não?
Tantas perguntas só reforçaram que a atitude de escrever diariamente poderia revelar o caminho que a escrita tomaria.
E foi assim que, no seu último dia de férias, ela empunhou uma caneta azul que estava em seu criado mudo – aquela mesma que respondeu a palavras cruzadas as quais adorava resolver, que notificou os resultados positivos das avaliações corrigidas, e que poderia enfim, mudar seu destino – e, como uma arma, foi estraçalhando o papel com palavras que estavam guardadas talvez há anos, quem sabe?