quarta-feira, 10 de abril de 2013

Autorretrato

I

Que traço, maneio, imagem que sou?
Qual forma, perfil, do rosto, restou?
Escolho uma veste e um humor para o dia
Que não é, finge ser, o que de fato eu seria.


II

O que vive em mim,
Perturba, revira e lateja,
Pois não mostro assim
Pr'um passante que lampeja.

Escondo, tenho medo,
Quero sumir da vista
E da ponta do dedo
Que me julga e revista.


III

Meu dentro verdadeiro
Por vezes emporcalhado,
Noutras, tanto derradeiro
De amores consumados.

Meu secreto que guardo,
Fino, leve e frágil cristal,
Cálice de todo o sagrado,
Montanha de bem e mal.

E se não agrado
Com meu deserto de sal?


IV

Anjo e monstro convivem
Em meio à minha ferrugem.