quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Desejo

Demorar-se o quanto não pode
O que o desejo não manda
Deixar-se um pouco quieta
O que o mundo não permite

Tempo que corre e retém
A imagem do que na verdade não é
Só deseja ser um pouco só
Esquecida
Temporariamente adormecida

Para se recompor
Refazer-se doce
Presente
Inteira

Em atitude-vontade-sonho-prazer

Sumir ao menos um dia
Sem nome e polícia e telefonemas
Que os filhos cuidassem de si
E o trabalho não se acumulasse

Pudesse então respirar profundamente
E se ouvir
Escutasse enfim seus sons
E tocasse seu corpo com o carinho devido
Que não doa a si faz anos

Quimeras
De carinhar os pés que as carregam
E de comer sem pressa uma manga
Um gomo e um bocado de suspiros
Ou de andar devagar pelo quintal
Sentindo o sol e cuidando das plantas
De banhar-se em água morna corrente
Embebendo a pele de óleo e cheiros
E de sair com calma para ver tudo
A cidade
As coisas
Os bichos
As gentes

Parar quando quisesse
Seguir quando quisesse também
E talvez voltar mais feliz

Notas Impublicáveis sobre o Presente

Os pés, que tão poeticamente a levavam
Não passam de tenras bisnaguinhas.
O sono, dantes de enlevos e doce aura
Agora é como rocha, marido depois da trepada.
E as curvas, outrora em lânguida harmonia,
Descambaram ao desenho cômico de tanajura.
Os poros - transpiravam juventude e gozo -
Ficaram assim, num tom róseo oleoso.
Cabia tudo, desde sonhos até micro roupas.
Pensa que seria mesmo bom se pudesse andar nua
Exibindo seu umbigo saliente por aí,
Ou as pernas corajosas e pesadas como postes
Ou os peitos temporariamente 44 de veias latentes.
Move-se, no seu dentro, outra gente.
E por isso, a fala estúpida sobre sua beleza estética,
É mesmo estúpida.
Trata-se de força.
E isso basta.