Cabelos pretos e brilhantes, fartos e ondulados, emolduravam o rosto daquele que estava ao seu lado há mais de dez anos. Sua pele era mais morena, o nariz mais adunco e as orelhas menores que as suas. Os olhos castanhos brilhavam quando falava das coisas que amava. Tinham também a mesma idade e altura, além de nomes idênticos, a não ser pela flexão feminina do substantivo próprio.
Amigos já tinham dito que até pareciam irmãos, pois o tempo fez com que ficassem semelhantes, em tal equilíbrio que muitos os chamavam por um codinome, uma espécie de identidade para o casal, resumida em uma só palavra.
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Já há duas primaveras que o equilíbrio era coisa complicada. A sintonia, sempre marcante dessa relação, deu espaço ao descompasso. Estavam em frequências diferentes.
Talvez porque não eram mais um casal - e sim um trio - e ainda não tinham encontrado um modo simples de ajustar velhas manias e sonhos antigos a essa nova realidade.
Estranho, porque tudo fora planejado cuidadosamente, principalmente por ela, que tinha sua vida bem definida, onde nada era possível lhe escapar entre os dedos. Não compreendia porque a fórmula daquele amor não funcionava mais.