segunda-feira, 1 de julho de 2013

Urgente

I

Vem!
Repara e ouve isso tudo.
É a urgência de viver:
Minutos felizes
No para sempre do agora.

II

Não perca a lágrima,
O grito,
O giro da saia,
O beijo na boca,
O vento no rosto,
O cheiro do mato,
O quente do banho,
O gosto da fome saciada...

III

Vem ver o abrir da asa
Da linda borboleta
Ao sair do casulo.
A flor de laranjeira,
Que de ontem para hoje
Tocou de um branco puro
O verde do teu jardim.

Repara o doce sorriso
Primeiro do bebê
Ao ver o rosto da mãe.
A mão do molequinho
Que toca, em timidez,
A palma da menina
A qual quer tanto bem.

Ouve o canto da senhora,
Varrendo o quintal,
Ao sol dessa manhã.
O som da mordida
Em delicioso biscoito,
Crocante e salgado
Em seu desjejum.

Tem tanta coisa para viver...
Acorde leve para a luz do dia!


Peso

Sacolas de roupas velhas
Doadas para gente estranha.
Cartas e postais e bilhetes
Queimam, sós, na lareira.
O relógio engavetado
Na penteadeira do quarto.
Os cartões bancários
Cortados ao meio.
As bolsas aposentadas
- em armários velhos -
Não gritam obscenidades.
Poemas pela metade
Rasgados em pedacinhos.
Anotações e cadernetas
Dormem no lixo reciclável.
Retratos voltados à parede
Fitam, perplexos, o látex
E nem olham mais para ela.
Números telefônicos
Apagados e sem destino.
Livros e lembranças
Encaixotados num porão.
As xícaras pintadas à mão
Foram para a casa da tia.
O carro? Vendido.
A casa? Leiloada.
Agora, mais leve.

Pássaros

Os periquitos domesticados possuem as asas cortadas, mas também já não há ventania boa que faça a gaivota planar. O que os une é o canto.

Fardo

E numa fração de segundo,
O corpo pesa o tanto do mundo.
O pensamento, o peito, os poros,
Tudo em mim carrega você.