quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Nada em mim.

Noutro tempo cantei como um sabiá laranjeira
Ou rugi em assombrosa indignação.
Restou-me somente calar.
Nenhuma comoção.
Nada em mim.

Noutro tempo escrevi como poetiza aguadeira
Ou anotei em diário uma confissão.
Não me sobrou sequer uma letra.
Nem pontuação.
Nada em mim.

Noutro tempo disse firulas e torrentes de amor
Ou gesticulei italianas onomatopéias.
Meu dentro secou em setembro.
Despetalaram azaléias.
Nada em mim.

Noutro tempo corri tantas léguas sem me indispor
Ou andei divagando, os pés no mar.
Então, por hora, criei raízes.
Permanecer, ficar.
Nada em mim.