quinta-feira, 30 de junho de 2011

7:40 - Metrópole

A turba já chega de olhos fundos,
Os rostos estampam noite mal dormida.
Fitam as janelas desejando os assentos,
Esperam no olhar alguma acolhida.
E as portas se abrem como fossem do céu
Mas não, são de uma lataria sobre trilhos,
Que transporta as gentes, os seus e os meus,
Levando sonhos, sacolas e filhos.
Superlotado, impossível adentrar,
Segue outro vagão enquanto eu possa esperar.
- O tempo é cruel, certeiro se esvai...
A longa espera finalmente termina.
Não que o trem tenha ficado vazio
Mas porque o compromisso assim determina.
Tomo ar, encho o peito de oxigênio precário,
Peço desculpas, piso pés, entro determinada.
Esmagada entre o vidro e as coxas do operário,
Sigo meu caminho, pensativa e envergonhada:
Um desconhecido grudado em mim,
O corpo colado e eu nada posso fazer.
É um ajuntamento de pessoas sem fim,
Imóveis, silenciosas, aguardam o moço dizer:
- Estação Sé... desembarque pelo lado esquerdo do trem.
E o povo, amontoado, sai por um lado,
Enquanto outros tantos empurrados já vem.
(quase que me levam também)
Lusco-fusco verde nesses túneis de zunido,
Atenta ao que passa para esquecer o calor.
Ironia meu destino ser o Paraíso,
Depois dos dissabores infernais do metrô.