Passaram-se uns dias.
Não estava seguindo a risca o que havia se proposto a fazer - era quase impossível escrever todas as noites porque sua vida era cheia de imprevistos.
Ora era a cólica que a encolhia na cama mais cedo, ora era a filha que a esgotava até tarde, ou o trabalho, ou e-mails que a pregava no computador, ora era o marido, a gripe pelo tempo seco, o telefonema para a irmã.
Em conversa com seu esposo sobre as possibilidades de um dia publicar o que escrevia, percebeu que tratava-se de algo que não seria fácil, quanto mais acessível aos bolsos de dois professores mal pagos.
Por constatar que não estava disciplinada o suficiente, em relação a produção manual de transformar seus pensamentos em palavras naquela agenda, e que o produto final tão desejado era incabível porque utópico, decidiu aliar-se a internet, como já tinha feito outras vezes, criando um blog, que solucionaria os dilemas expostos.
O blog tornaria tudo público e acessível de maneira gratuita e, a idéia de ter leitores diariamente, obrigaria que escrevesse, mesmo com tantos "oras".
Sendo artista, bem no fundo do coração, não viu nenhum problema em suas palavras serem copiadas ou coisas do tipo, porque acreditava que era a partir da recriação, do tomar para si e resignificar, do vomitar após devorar, que a humanidade e a arte se faziam. A concepção de autor de obra ou direito sobre ela não fazia muito sentido em sua cabeça.