segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Sobre a Juventude

Nos últimos dias, meu coração ficou apertado enquanto eu observava meus meninos e meninas - como carinhosamente chamo meus jovens alunos - participarem do campeonato interclasses da escola.
Senti-me um tanto deserta de vida, da vida latente que brilha nos olhos de cada um deles e que eu, ao longo dos anos da madureza, deixei ir embora.
Ah, como são bonitos!
Olho para eles com curiosidade até, porque mal lembro de mim em época parecida, e da beleza que eu carregava e nem sabia.
Isso porque na juventude costumamos achar nosso corpo feio e nossa cara esquisita! Que tolice! Talvez tenha sido o tempo em que o conjunto da minha obra esteve mais equilibrado. Tempo de cabelos vívidos, olhar profundo e curvas harmoniosamente pioneiras. Os músculos ainda tenazes e sem a flacidez de carregar filhos ou as indesejáveis inconveniências de fast food acumulado… Os desejos à flor da pele, como bolhas de sabão prestes a explodir… E uma alegria!
Aquela alegria de despertar para o mundo, de desafiá-lo sem pudor; alegria de amar demoradamente um amigo e rapidamente um fazer qualquer.
Senti-me assim, bem sozinha, ao vê-los ali, me rodeando dessa força alaranjada que eles têm. E depois... Depois eu fiquei com uma baita saudade.
Saudade deles, que vão caminhar sem minhas mãos, ainda que estejam perto - nas visitas regadas novidades a abraços apertados.
Saudade de mim, da parte que fui e que às vezes tento encontrar: aquela eu que aparece quando escorrego num toboágua, quando beijo meu amor ou quando brado e levanto minha bandeira na rua.

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Verdade Inconveniente

Não, eu não mudei.
Passou um tempo,
Eu sei,
Mas sou a mesma.
O mesmo andar,
Os velhos toques.
Eu não mudei.
Foram teus olhos,
Teus olhos cansados
Que me viram,
Viram melhor.
Mas não,
Não querido:
O que eu guardo,
O que eu digo,
Está tudo igual
Como era antes
Porque eu não mudei.
E nem queria.
Nem queria mesmo.
Eu gosto assim,
Assim como sempre.
Não,
Não diga isso,
Não fale mais
Que eu mudei.
Eu não mudei.
A mesma dor,
Os velhos risos,
Sou eu aqui de novo.
Olha de novo,
De olhos abertos,
Eu não mudei.
A mesma, igual.
Não, não fale mais.
E nem de novo.
Não estou morta.
.
.
.
.
Eu estou morta?
Morta?
Porque não mudei?
Não diga isso.
Não fale mais.

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Solilóquios

I

Que falta me faz
- pedaço de mim.
Doído é assim
E aguado demais
Meu pranto sem fim.
Mãe de querubim
É anjo sem paz.

II

Carne da carne
Sonho do sonho
Sem você
Às vezes é cinza
E tudo dói

III

Respiro.
E mais uma vez.
Sinto o quente
Que escorre
Do canto do olho:
Salgado,
Toca meu lábio.
É para lembrar-me
Que estou viva,
Ainda que não.
E eu não sei mais
Dizer o teu nome
Sem morrer um pouco,
Sem rezar um tanto,
Sem sorrir durante
E sem chorar depois.

IV

Lua.
Sol.
Lua.
Sol.
A saudade só aumenta.
É um não sei o quê
Que me leva e me puxa
E me abre os olhos
E sopra em meus ouvidos:
- Segue!