sábado, 4 de setembro de 2010

          Resgatando as poesias, achou também as que tinha musicado e, quando conseguiu enfim respirar e ter um tempinho livre depois das 23h, buscou o violão abandonado no canto do quarto - que há tempos não era dedilhado - e ficou ali, sentada na sala, cantando as velhas músicas que tinha composto em sua adolescência.
          Ainda conseguia cantar no mesmo tom apesar do tempo ter alterado sua voz. Os dedos, hoje secos pelo pó de giz, continuavam ágeis: não tinham esquecido a dinâmica da técnica, as cifras eram claras e lhe vinham a mente como brisa gostosa da tarde.
          Como era bom ter esse tempo, sozinha, sem ruídos. Só, com sua voz e suas emoções.

I - Carta para meu Amor

A palavra não dá conta,
Nem o gesto e nem o olhar.
Não há como o indizível ser conhecido.
A natureza, em sua grandeza,
Não revela criação a qual se possa comparar
O que existe, aqui em mim, por você.
E você, meu amor, nem nunca saberá
Porque por mais que te diga, te escreva, te toque...
A razão não compreende!
Talvez em lapsos de ímpeto e impulso,
Como no orgasmo ou num grito de raiva,
Nossas almas de fato se comuniquem...
E aí sim, nessa essência,
Acredito que essa coisa chamada amor
Se revela por completo.

Te respeito no sentido mais "religioso" da palavra, porque te amo a ponto de deixar-te ir se este for seu desejo e porque acredito no potencial que você guarda dentro de si. Mas também tenho por você a paixão efêmera e louca, que deseja tudo o quanto se pode; e a amizade, que torna a companhia entre os velhos tão prazeroza... Que cada segundo nosso, juntos, seja um sempre!