quinta-feira, 8 de novembro de 2012

O Vazio

Eu vejo o teu vazio.
Eu sinto o teu vazio.
Eu choro o teu vazio.

Dói estar perto
E não completar,
Não ser o suficiente.
O que te acalma.
O que te responde.

Eu vejo uma menina:
Perplexa,
Assustada,
Só para sempre.
(como eu era)
(como eu sou)
Somos todas.
Todos.

O que posso fazer
E estar,
É ficar assim quieta
Mas presente.
Segurar a tua mão
Antes de dormir,
Ao atravessar a rua.
Quando quiser.

Acordo para te ver,
Te cobrir,
Perceber se respira.
Quero te proteger.
Te guardar
Do medo,
Da crueldade,
Do sem sentido.

Em vão.

Posso te dar
O não saber,
A incompletude,
Os erros,
O tentar ser.

Você está gravada
No meu seio,
No meu púbis,
Nas entranhas,
Desejos,
Orações,
No todo pouco que sou.

Então te acalanto
Enquanto sangramos.

Nós duas aqui
Dançando no chuveiro,
Batendo claras em neve,
Rodopiando os vestidos,
Procurando...

Escarafunchando
As gavetas da alma,
As maldades do mundo,
Nossa solidão.

Duas borboletas perdidas
No ritmo,
Na cidade,
No meio do nada,
Nos sonhos sem fim.

Tuas pelúcias no quarto
Contrastam
Com tuas perguntas
No vácuo,
Com a acidez
De subir o vidro no farol,
Com a aspereza
Das gravatas de seda
Que perambulam pelo centro.

Não posso
Te fechar os olhos,
Anestesiar teus poros
Ou tapar teus ouvidos.

Você já sabe do vazio.

Nós vemos o vazio.
Nós sentimos o vazio.
Nós choramos o vazio.