domingo, 29 de agosto de 2010

# Tentativa 1 - Continuação #

          Com cinquenta anos ou mais, a casa onde morava com sua família ainda era uma construção forte e bem estruturada. Mais elevada que o nível da rua - condição que devia ter sido fundamental e favorável quando o rio ainda não era canalizado - tinha algumas paredes internas feitas com dois tijolos de largura, o que lhe conferia um ar imponente.
          Estava ali há poucos anos mas já conhecia todos os moradores da rua, apenas de vista, porque não era vizinha de conversar em portão ou janela. Na casa geminada a esquerda, residia uma família numerosa e barulhenta: batiam portas, gritavam com as crianças, um entra e sai de desconhecidos nos fins de semana, hinos durante o dia tocando a decibéis impossíveis. Já a direita, tinha uma velha senhora sozinha e sua casa mais parecia uma relíquia, quase prestes a desabar.
           A rua estreita não comportava que passasem dois veículos ao mesmo tempo mas, por ser uma via de ligação entre duas avenidas importantes - espécie de atalho rápido - era bem movimentada, especialmente pela manhã em razão do fluxo de pessoas rumo ao trabalho e nas sextas-feiras a noite, quando imaginava que todos pediam pizza ao mesmo tempo.
          As calçadas, também estreitas e cheias de postes de iluminação, não eram muito utilizadas pelos pedestres, porque seriam obrigados a desviar a cada metro ou passada de um escremento de cachorro, não recolhido pelo dono irresponsável. Assim, a rua era um misto de gente, carros e motos, todos na via. Bastava um caminhão para que tudo parasse e ficasse travado.
          Mesmo com essas desvantagens, gostava de morar ali.
          Estava mais próxima do comércio e das vias de acesso, a casa era espaçosa para receber visitas, tinha um quintal para estender aquele mundaréu de roupinhas, o sol batia a tarde nos quartos e bem por isso os ambientes eram aconchegantes.
          Nesse bairro antigo e tradicional, ainda encontrava-se o bar português, famoso por seus bolinhos fritos de carne, que ficava de frente a sua garagem e, aos domingos, quando os ruídos dos carros e motos diminuíam, os garotos empinavam pipas e era possível escutar o canto de alguns poucos pássaros.