O cárcere desértico do cansaço,
De implacável dor e solidão,
Afunda o teu corpo no regaço
Do dorso que deseja em ilusão.
Cerra os teus olhos marejados
Por suspiros e bocejos dormentes,
Para sonhar com teu amor alado
Que apazigua infortúnios recentes.
Adormece a inquietude insana
Que te leva a um viver oblíquo.
Repousa o teu peso nesta cama
Para o porvir acontecer profícuo.
E emaranhada como um novelo,
Tocada por delicado algodão,
Desperte e sorria ao desvelo
De saber-se levada por paixão.
Aquela mesma que cura feridas
E outras muitas cria para sangrar;
Prisão velada e um tanto ardida,
Que lhe tomou em um golpe de ar.
Esquece o pensamento aflitivo
Que o som do relógio acompanhava,
Acenando para um tempo esquivo
Do não viver que sequer terminava.
Entregue, sem caução, um teu espaço,
Para que seja, enfim, e tão somente.
Que ame e ceda a um terno abraço
Para sentir-se inteira e novamente.