quarta-feira, 29 de setembro de 2010

# Tentativa 3 - Continuação #

* 10 *


          Mesmo já estando bem escuro, Lara percebeu que a casa de Madame Sanges era um palácio. Ladeada por jardins, a residência exuberante contrastava com a pobreza de Mara Rosa e atestava como aquela família era de fato muito rica. A garota não imaginava, em sua doce inocência, que tanta riqueza advinha dos impostos pagos pelo povo sofrido da cidade. Acreditava apenas que os Sanges eram pessoas de sorte e que deviam ter trabalhado muito para conquistar tudo aquilo.
          Muito sem jeito, constrangida pelas roupas que usava e pelo mal cheiro de seu suor, a menina seguiu os passos da Madame, que adentravam a casa por uma porta de madeira maciça de lei. Com os olhos baixos, envergonhada de fitar o ambiente, Lara percebeu a beleza do lugar apenas pelo que viu do chão pelo qual passou.
          Primeiro um granito claro da cor da areia, seguido por um corredor forrado de tapetes finíssimos e estampados. Em seguida, um assoalho peroba brilhoso, adiante mais um bocado de tapetes com franjas e depois um outro corredor, ladrilhado de pastilhas cerâmicas pontilhadas de dourado.

- É aqui. Você vai dormir nesse quarto essa noite. Amanhã bem cedo eu peço ao meu motorista Irineu para te levar até em casa. Sua madrinha deve estar muito preocupada! Coitada da Antonia! Pena que vocês não têm telefone, eu poderia acalmá-la. Você não vai me dizer nada?

          Lara continuou de cabeça baixa. olhando para suas unhas encardidas e dedos sujos dos pés.

- No quarto tem roupa de cama limpa. Tome um banho quente, deite e durma. Você verá que tudo estará resolvido logo cedinho. Está com fome?

          Madame Sanges parecia falar sozinha. A menina não demonstrava nenhuma emoção.

- Claro que está, que pergunta boba a minha! Vou pedir a Lucinda que te traga um lanche bem reforçado. Quem tem fome não consegue dormir, não é?

          Silêncio. Apenas o barulhinho dos grilos lá fora.

- Está bem, boa noite então.

          Madame Sanges seguiu o corredor até a segunda porta a direita, entrou e finalmente Lara ficou só. Virou devagarinho a maçaneta da porta do quarto, como se estivesse com medo do que poderia encontrar lá dentro.