domingo, 30 de dezembro de 2012

A Velha Mãe

A Velha Mãe,
Mãe de todas nós,
Vestida de lua,
Tecerá uma manta
De brilhantes estrelas
Para cobrí-la do vento,
E entoará cantigas
Esquecidas do mundo
Para acalentar teu sono.

A Velha Mãe,
Mãe de todas nós,
Coroada de sol,
Alimentará teus sonhos
Com histórias bonitas
Sobre seres celestes,
E saciará tua fome
Com leite eterno e morno
De teu seio enrugado
- cúmplice do pranto
de todas nós, filhas,
que perdemos os filhos
e deitamos em teu colo,
pedindo consolo e carinho.

A Velha Mãe,
Mãe de todas nós,
Senhora dos tempos,
Te fará forte,
Mais que a mim,
Para que me vejas de longe,
Caminhando errante;
E suportes, resignada,
Meu egoísmo e apego
De querê-la aqui
Para que eu fosse feliz.

A Velha Mãe,
Mãe de todas nós,
De paciência infinita,
Cuidará de ti,
Da tua pele e espírito,
Com óleo de cheiro e amor,
Assim como eu faria
Se estivesses aqui.

A Velha Mãe,
Mãe de todas nós,
De eterna sabedoria,
Te ensinará sobre tudo,
Te protegerá do medo
E te guardará do mau.
Por ela, saberás,
De mim, que fiquei;
Para quando for hora
E estivermos prontas,
Possas, enfim, me visitar
Para apaziguar meu pranto,
Que é só por mim
E pela saudade.

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Um Dia de Cada Vez

I

Amanhece.
Com fortaleza,
Executo a tarefa
Diária e dolorida
De retirar com calma
- a pá empunhada -
Mais um pouco da terra
Que me recobre inteira.

II

Anoitece.
Com esperança,
Acredito que a tarefa
Um dia, quem sabe?,
Por fim termine
E eu sinta, de novo,
Em meu rosto minguado,
O carinho suave da brisa.

III

Na alma, a fé na paz que desejo.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Heloísa (in memorian)

I

Encontrei em mim
A fortaleza de um amor eterno,
Resignado, sem nada em troca,
Que mareja o meu olhar.
Acostumada as marolas
De amar-te calmamente,
Na leveza do toque,
Da prece ou do canto,
Surpreendo-me vencendo,
Às vezes com culpa e ansiedade,
Minha perda de agora.
De sempre.

II

Levo você e teu nome
No relicário do meu coração,
Ainda que o som agudo do vazio
Acompanhe cada um dos meus dias.

III

Tua ausência me ensina
Luta, coragem, devoção.
Bem antes já sabias
Da minha incompletude.
Chegou e se foi,
Minha e do céu.

IV

Amar-te,
Ainda que assim,
Faz-me viver melhor.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

7 Dias Depois

Não durmo.
Ainda ouço os sons:
Das minhas mãos batendo contra a dopamina;
Do sugador aspirando meu dentro;
Da sirene da incubadora nunca usada;
Do choro baixo de quem amava como eu;
Do silêncio em que você veio e no qual ficou;
Da dor de te ver só uma vez.
O som do vazio.

Sobre 19 de Dezembro de 2012

Eu vi
Eu ouvi
Eu senti
Você ir embora.
Restou dor.
Dor.
Dor.
Dor.
A dor impossível.
A dor do para sempre.

Não blasfemei.
Não odiei ninguém.
Não culpei a quem.

Só queria ser feliz
Nos sonhos que tinha,
Nos desejos de tê-la
No colo, no seio,
Ao meu lado dividindo.
Bem perto, vivendo,
Para que eu pudesse vê-la
Um dia, sorrindo,
Em casa, correndo,
A criança que era minha.

(escrito 3 dias depois)

domingo, 16 de dezembro de 2012

Heloísa

I

Encontrei em mim
A beleza de um amor sereno
Que apazigua, adormece,
Distrai o meu olhar.
Acostumada às vertigens
De uma paixão sem medidas
Que não cabe no peito,
No beijo ou no pranto,
Surpreendo-me amando
Sem ansiedade ou culpa,
Ao menos por agora.

II

Levo você e tue nome
Em delicada manta de tricô
E o cheiro suave da calêndula
Perfuma tua pele de dias.

III

A tua presença ensina
Luta, coragem, devoção.
Bem antes já sabias
Da minha incompletude.
Chegou sem ser dona,
Só ou exclusiva.

IV

Amar-te calmamente
Faz-me viver melhor.