Sempre fui esperta. Esperta para fazer as coisas com agilidade. Mas não esperta de esperteza mesmo, dessa que a gente antecede o que se pode acontecer se...
Uma esperteza de fazer o que tem que ser feito, com eficiência e rapidez.
E de alguma maneira, essa minha qualidade, nos tempos contemporâneos da falta de tempo para tudo, tornou-se um fardo, um algo do qual virei refém.
Pode o dia ter 24, 32 ou 100 mil horas, eu ainda não darei conta de tudo o que está por fazer. E então eu aprendi a viver correndo, na tentativa de fazer tudo, porque é preciso.
Não sei bem quem me ensinou que é preciso ou se acredito nisso sem nem saber porque. A questão é que simplesmente corro demais.
A rotina começa duramente cedo, bem cedo e acaba muito tarde, bem tarde, quando já é dia seguinte. O sono é regalia, umas cinco horas devem bastar e se não bastam, eu me contento.
E foi assim nessa frenética rotina que eu me encontrei com minha filha e venho esbarrando nela, diariamente. Digo assim porque ela tem outro tempo, um tempo saudável e feliz, típico de uma criança de quatro anos.
Vamos, estamos atrasadas! E, pacientemente, ela coloca as presilhas no cabelo e escolhe a boneca que vai acompanhá-la até a escola. Anda logo filha! Mas ela ainda está vendo as figuras de um livro ou guardando, uma a uma, as pecinhas de um jogo. Depressa, não vai dar tempo! Ela beijando sua ovelhinha de pelúcia e colocando o cinto do carro na bichinha. Mas que demora! Mas ela ainda acarinha os cachorros que tanto ama e resolve dar uns biscoitos. Come logo essa comida! E a comida, está na boca, virando purê, enquanto ela ouve uma história do vovô.
Na vida da minha filha o tempo é largo, barrigudo, sobra espaço para tudo o que for bom, feliz, sensível e curioso. Ela aproveita a água do banho, o abraço do pai, a lambança das tintas no papel, o sabor de um almoço, o frescor de um suco... Há tempo para cada coisa. E dorme cedo e dorme bem e dorme muito.
Então desde que ela chegou, atravessando a minha vida devagar, eu venho me perguntando sobre essa insanidade de viver às pressas. Eu tão esperta por ser ágil, ganhei uma filha esperta por viver com prazer e verdade, no tempo que lhe convém.
Acho mesmo que ela está certa, além de esperta, é mais inteligente que eu. Porque vivendo bem, no próprio ritmo, economiza energias e poupa o corpo de estresses desnecessários. Está sempre sorrindo, com o espírito de prontidão.
Eu é que preciso me corrigir.
Tarefa difícil para quem sempre usou agenda ou marcou quinhentos compromissos num único dia. Parece impossível desacelerar.
Mas não é.
Exercitar a paciência e o controle da ansiedade com certeza me fará uma mãe melhor