quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Em agosto, Antonia...

Depois daquele dia, ela não mudou mais nenhum objeto de lugar. Ficou tudo intacto. Nada foi jogado fora. Tudo estava exatamente como na lembrança. E há mais de dois anos ela não tinha coragem para abrir aquela porta. O cômodo devia estar repleto de poeira, ácaros devorando as memórias. Sequer conseguia limpar a casa quanto mais isso. Era demais para sua vida devastada. Havia até escondido a chave dentro do pote de arroz para que não ficasse por demais atordoada em conviver com ela, pendurada no gancho da cozinha. Olhar para a chave daquela porta fazia com que se sentisse covarde, até um pouco morta também. Já não sabia o que era pior: acordar, dormir e acordar com aquela sensação eterna de impotência ou viver o horror daquela perda, que decerto, assombrava seus pensamentos diariamente. E numa manhã qualquer, dessas em que tudo está estranhamente normal, enquanto uns diziam que ela estava deprimida, outros que estava conformada e ainda aqueles que acreditavam já ter superado, ela explodiu o apartamento com uma bomba caseira. Pedacinhos de tijolos e histórias guardadas voaram pelos ares num zunido ensurdecedor. E então a dor passou.