Lara saiu andando, sandálias rasteiras nos pés, sacola pesada no ombro, dez anos de experiência de vida, sol quente queimando seu rosto, nenhum dinheiro no bolso. Iria longe?
Na estrada viu belezas e mazelas do lugar em que vivia. Riachinhos correndo perto do caminho contrastavam com montes de lixo, aqui e ali, sendo selecionados pelos urubus.
Caminhou por quase seis horas, parando vez ou outra para tomar água e comer maçã. O que conseguiu foi chegar até o centro, fatigada, suada, pernas e braços tremendo por inteiro. Estava extremamente cansada. Por mais determinação que tivesse, seu corpo era muito jovem para colocar em prática o que sua cabeça madura tinha pensado.
Tinha fome, sede, vontade de fazer xixi e de dormir profundamente. Nem bem tinha ido embora e já sentia na pele como era bom ter uma casa, um lugar só seu.
Arrastando as pernas enquanto percebia a noite descendo de mansinho, sentou num dos degraus da escadaria da Igreja Matriz, recostou na bagagem e cochilou.
Foi acordada subitamente por um barulho de megafone, que gritava chamando a atenção dos últimos comerciantes que baixavam as portas:
- Vote em Paulo Sanges!! Reeleja o prefeito que fez muito por você!! Ele cuida do povo com a dignidade que merece!!