domingo, 28 de outubro de 2012

Maternidade

Tranço, paciente, um ninho
De sempre-vivas e dentes de leão,
Que vai ninar com terno carinho,
Embalando como fosse uma mão.

De Héstia, carrego uma filha
Nesse ventre que move a Terra
E com ela minh'alma partilha
Tudo o que no amor se encerra.

Preparo com doce cuidado,
Que sinta-se tão bem amada
E no seio encontre selado

Laço de nos por em caminhada,
Companheiras em lado a lado,
Na solidão dessa vida-estrada.

Velho

Tuas cores tão cálidas
No lençol vermelho
De puro algodão,
Contrastam, pálidas,
Miradas no espelho
Da fugás ilusão

De tê-la somente
E tão só para mim
- eu deserto de gentes -
Num escuro sem fim.

Teus braços repousam
Sobre meus cabelos
Grisalhos da vida.
Tuas asas pousam
Lisinhas, sem pêlos,
Encobrindo as feridas

Abertas, são vertentes
De um gosto ruim.
E só você, tão indulgente,
É senhora capaz de dar fim.

Mas devo-me confessar
Que imerso em pecados
De amor, vivo sem paz.
Ah, desejo te beijar,
Comê-la aos bocados
Sem essa culpa voraz,

De sabê-la amante
Mas querer-te inteira,
Por todo o instante
E de toda a maneira.

Para que eu seja feliz.
Um velho feliz
E não só um velho.