# Tentativa 1 - Continuação #
Era uma mulher de poucos amigos.
Era uma mulher de poucos amigos.
Os que não compreendiam seu espírito ou não conseguiam acompanhar seus devaneios e pensamentos ou, ainda, compartilhar de seus projetos, afastavam-se rápido e discretamente. Alguns estavam por perto apenas para aproveitar suas idéias originais ou para tê-la como um Judas a quem se bate quando está nervoso. Aos raros companheiros verdadeiros que encontrara, fazia questão de demonstrar afeto e apreço porque bem sabia que não os queria perder e, se estavam ali, é porque algo de puro em suas almas encontrava eco na sua.
Assim, depois de tanto tempo, era possível contar nos dedos das mãos as pessoas especiais com as quais se identificava e mantinha contato. Sociável e generosa, tinha feito muitos colegas por todos os cantos que passou, mas estas relações superficiais não preenchiam, de modo algum, seus anseios em relação ao que esperava da humanidade.
Queria mais. Queria paciência, trabalho em equipe, reciprocidade e carinho. Desejava o riso, o sonho, a palavra. Acreditava na relação baseada no olhar verdadeiro, na sinceridade e no diálogo. Esperava a cara lavada e não a máscara.
E era difícil. Porque a chamavam de boba, trouxa, ingênua. Porque sofria ao descobrir que era usada sem saber. Porque doía perceber que ninguém se importava. Porque era incompreendida e tachada de filósofa ou louca. Porque era um peixe fora d´água ou nadando contra a maré. Quase sempre.
Então acostumou-se a fingir não ouvir, a engolir sapos e rãs, a dar sem receber; para poupar-se. Resignada, deixava que sua voz metálica calasse. Dizia apenas o que queriam ouvir. Ficou um tempo rouca e, de tanto calar, perdeu mesmo a voz por vários meses.
Passados os tratamentos fonoaudiológico e terapêutico, reviu e mudou sua conduta.
Deu voz a sua voz, disse o que era necessário, gritou quando esteve irritada - com razão ou sem ela, sussurrou carinhos ao pé do ouvido, cantou no chuveiro, falou verdades amargas e aprendeu que para se preservar não era preciso emudecer o coração nem a alma.
Bastava apenas compreender que era diferente e que não encontraria tantos parecidos consigo por aí. Partilharia o possível, com quem estivesse preparado e receptivo. O resto, o impossível para o homem digerir ou aceitar, teria como cúmplices apenas um papel e uma caneta.