quarta-feira, 30 de maio de 2012

Essas Meninas

Me comovem essas meninas
Presas em bermudões de elanca,
Rodopiando naquele pátio
Com seus vestidos imaginários de algodão;
Num mundo cheio de purpurina,
Confetes, brilhos, balas de goma
E uns desenhos de coração.
Essas meninas crespas, abandonadas,
Remelentas e mal amadas,
Unhas sujas em mãos de bailarinas...
Que se defendem de um carinho,
Baixam os olhos com elogios,
Emudecidas pelas pancadas.
Há poesia nessas meninas.
Dançam de dia, dançam de noite,
Dançam princesas de contos de fada!
Nenhum afago, colo ou beijo,
Ou orelha encostada na pele do lugar de onde vieram.
Essas meninas rudes,
De nomes impronunciáveis,
Cheias de vida, sonhos e cores...
Nanam bonecas disformes e feias
- suas filhinhas que querem bem.
Ali esperam finais felizes, de estrelinhas,
Com palavras doces, fogos e vagalumes.
Esperam amor de um talvez alguém,
Alguém precioso como essas meninas.

terça-feira, 22 de maio de 2012

Luana

Pintou de blush dourado
As mãos de unhas carcomidas,
As pálpebras fundas,
As bochechas de meninota magricela
E passou serelepe, feliz da vida,
Sentindo-se mulher maquiada.
Mas estava ali, num prédio velho chamado escola,
Onde suas loucuras não cabem nem se acomodam;
Diante de mim,
Uma pequena professora num mundo de possibilidades!
- Querida, aqui não pode. Vamos, se lave.
Saiu triste, fugida, me partindo o coração,
E voltou, ainda que eu não acreditasse.
Então estava como sempre,
Amarrada ao comportamento imposto, a duras penas.
Mas os olhos eram um mar de água doce.

terça-feira, 8 de maio de 2012

Desencontros

Um prá lá ___________
________ Outro prá cá.
Liga. Toca. Não atende.
Sai. Se vai. Não leva o telefone
Que chama ...........................
Chego. Procuro. Não está.
Onde? Se foi. Não leva a sacola
Que fica lá ............................
Um prá lá ___________
________ Outro prá cá.
Dirijo. Corro. Não vejo.
Anda. Indo. Segue no metrô
Prá longe ..........................
Eu aqui ______
______  Ele lá

domingo, 6 de maio de 2012

Transeuntes Tortos

Os seres são mesmo tortos.
Humanos faltando partes.
Todos capengas, tentando ficar em pé.
Uns não possuem as pernas da coragem.
A outros faltam os braços da ética.
Inúmeros sem língua sincera
Ou sem nariz de curiosidade.
Também sofrem os coitados
Sem os olhos da alma
Ou sem ouvidos filtrantes.
Meu Deus!
E o que será daqueles sem as partes íntimas?
Sim, aquelas mesmas responsáveis pelas iniciativas?
Procuram médicos sem fim,
Sem respostas, sem plexo solar,
Deficientes como todos.
Todos vagando por essa terra afora,
Que é tão torta quanto seus transeuntes.
Sim, já não são mais habitantes e nem moradores.
Será que chegarão a parte alguma?