O assovio do frio
Zune em minha cabeça
- Turbilhão de curtos filmes.
As pontas dos dedos
Arroxeadas, geladas,
Seguram o giz e a caneta
- Titubeam em trabalhar.
Afinal as cobertas,
Tão acolhedoras,
Esperam o corpo esguio
Acomodar-se para repousar
- Tentação jogar-se na cama
Por horas a fio.
A solidão do frio:
Quando os pés não encontram o par,
Quando a criança dorme ao luar
Ou quando a pilha de agasalhos
Mofa dentro dos armários,
Enquanto a televisão dispara
Notícias de mortes congelantes.
A neblina do frio
Disfarça a paisagem e o rosto
- Marcado - envelheci.
A ponta do nariz
Vermelha e pálida
Teima em respirar teu cheiro
- Impregnado nas lãs e malhas.
E o amor,
Resistente a seca,
Encharcado de garoas de inverno,
Paciente adormecido aguarda:
Que em meio a fumaça no banheiro,
Da água quente que se derrama do chuveiro,
Eu veja, estampado no espelho,
Um coração desenhado com a mão
Que guarda meu nome e o seu.
Então inverno será verão.