sexta-feira, 17 de setembro de 2010

# Tentativa 3 - Continuação #

          Era semana do seu aniversário de dez anos e estava muito ansiosa. Corria pela casa, demorava a dormir, falava sozinha enquanto descascava as batatas, estava contente e nervosa. Como será que seria sua vida com dez anos?
          Na segunda-feira, enquanto o sol baixava e ela via pela janela o céu estrelado surgindo, puxou conversa com Dinha sobre o presente que desejava ganhar.

- Sabe Dinha, queria ganhar uma coisa diferente nesse ano.
- Óia mia fia, ocê sabe muito bem qui eu num tenho muito dinhero, intão num pedi nada qui eu num consiga ti dá.
- Eu nunca ía fazer isso, né? Quero uma coisa da feira mesmo, só que diferente.
- I diferenti como? Num intendi!
- Eu queria um caderninho daqueles bem bonitos, com princesa na capa, para eu escrever coisas da vida.
- Coisa da vida? I ocê lá tem coisa já prá contá?
- Tenho sim! Minha vida é bem interessante!

          Dinha sorriu. Sabia que a menina queria escrever suas histórias. Achou que era mesmo um bom presente porque a ajudaria até a melhorar na escola.

- Tá bão. Vou precurá um bem lindinho, ingual ocê.

          E Dinha procurou. Olhou a feira de cima em baixo, vasculhou cada banquinha, mas não encontrou nada que realmente fosse bonito como imaginava que a menina gostaria. Então teve uma idéia prá lá de especial.
          Foi à casa de Dna. Lurdinha, uma artesã de mão cheia, que pintava tecidos, fazia cestarias, mexia com argila e barro no torno, transformava cabaças feias em bonecas de luxo. Contou o que a menina queria e Dna. Lurdinha prometeu que a encomenda ficaria pronta na véspera do grande dia. Não custaria nada porque devia um favor para Dinha, que tinha ficado duas semanas ajudando a cuidar do marido doente daquela mulher.
          Dias depois, procuraria Dinha com o presente nas mãos, embrulhado em um saco de juta tingido, amarrado com laço de fita dourada, orgulhosa de mais uma obra de arte feita por suas mãos. O presente ainda cheirava tinta fresca e era tão delicado, que Dna. Lurdinha pediu a Dinha que guardasse com cuidado, longe os perigos da chuva ou do sol em demasia, até a manhã seguinte, quando fosse entregue.