quinta-feira, 19 de abril de 2012

Volta para Casa

Silenciosamente,
Carregando a filha que docemente dormia,
Devagar até a porta,
Caminhou com a chave na mão
E as obrigações no pensamento.
Mal acendeu as luzes
- a claridade a acordaria.
Mas estando dentro de casa,
Paralisada ficou.
Imóvel,
Tomada por um medo assombroso,
Não conseguia ir ou vir.
Agarrou a menina com seus braços finos
E o coração gigante,
Sem decidir-se, apenas a ouvir.
Barulhos estranhos.
Voltou-se para o carro,
Atônita, sem voz, os olhos encharcados...
Como a protegeria?
Sozinhas ali,
Num lar sem muitas histórias,
Algumas poucas que ainda doíam.
A filha,
Afundada no seu peito,
De olhos cerrados e corpo cansado,
Nada percebia.
Mas a mãe,
Aquela que sempre foi porto seguro,
Agora fragilizada, mais parecia uma criança.
Reuniu coragem,
Fortaleceu o fiapo de fé que lhe restara
E entrou no lugar que abrigava tudo:
Seus sonhos, seus amores, suas conquistas.
Descontroladamente, seu pranto molhava
Os cabelos loiros de sua menina,
Enquanto caminhava lentamente
Olhando cada canto,
Estudando cada porta e cômodo.
Os olhos atentos às trancas e objetos.
Agarrada a sua cria,
Ainda ligou a tantos números conhecidos
- soluçava, nem sabia o que diria.
Ela, sempre tão independente,
Desencanada da vida,
Aparentemente calma e serena,
Estava como nua, impotente.
E ao colocar a filha na cama,
Sentiu-se a mais infeliz e doente criatura.
Era hora de voltar a terapia.