sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

O Abajour, a Moça e a Caderneta

I

Ansioso, aguardava que a noite não demorasse.
Queria vê-la, mesmo que brevemente, antes de dormir.
Gostava de sentir o toque delicado de sua mão.
Sem pressa, podia apreciar aquele corpo repousando.
Reparava até no tecido da camisola que ela usasse.

II

Orgulhava-se de ter o dorso esguio, forte e ereto.
Assim, podia avistar melhor cada detalhe.
Um pouco soberbo, claro, por saber-se imprescindível na vida daquela moça.
Por vezes, a arrogância era tanta, que resolvia falhar só para vê-la irritada.
Dono de uma incandescência ímpar, era a mais bonita estrela da madrugada.
E mesmo despido, fazia charme com seu branco chapéu carioca.

III

Mal sabia a moça que ele tinha uma amante. Sim!
Passava o dia roçando nela e fitando o corpo rubro de sua outra paixão.
Magra e de poucas curvas, mais silenciosa e discreta, a amante guardava mil segredos.
Pena que as duas fossem tão amigas e cochichavam a noite toda.
Será que elas tinham um plano?

IV

E ele ainda estragaria tudo.
Mais cedo ou mais tarde.