Sacolas de roupas velhas
Doadas para gente estranha.
Cartas e postais e bilhetes
Queimam, sós, na lareira.
O relógio engavetado
Na penteadeira do quarto.
Os cartões bancários
Cortados ao meio.
As bolsas aposentadas
- em armários velhos -
Não gritam obscenidades.
Poemas pela metade
Rasgados em pedacinhos.
Anotações e cadernetas
Dormem no lixo reciclável.
Retratos voltados à parede
Fitam, perplexos, o látex
E nem olham mais para ela.
Números telefônicos
Apagados e sem destino.
Livros e lembranças
Encaixotados num porão.
As xícaras pintadas à mão
Foram para a casa da tia.
O carro? Vendido.
A casa? Leiloada.
Agora, mais leve.
Nenhum comentário:
Postar um comentário