Demorar-se o quanto não pode
O que o desejo não manda
Deixar-se um pouco quieta
O que o mundo não permite
Tempo que corre e retém
A imagem do que na verdade não é
Só deseja ser um pouco só
Esquecida
Temporariamente adormecida
Para se recompor
Refazer-se doce
Presente
Inteira
Em atitude-vontade-sonho-prazer
Sumir ao menos um dia
Sem nome e polícia e telefonemas
Que os filhos cuidassem de si
E o trabalho não se acumulasse
Pudesse então respirar profundamente
E se ouvir
Escutasse enfim seus sons
E tocasse seu corpo com o carinho devido
Que não doa a si faz anos
Quimeras
De carinhar os pés que as carregam
E de comer sem pressa uma manga
Um gomo e um bocado de suspiros
Ou de andar devagar pelo quintal
Sentindo o sol e cuidando das plantas
De banhar-se em água morna corrente
Embebendo a pele de óleo e cheiros
E de sair com calma para ver tudo
A cidade
As coisas
Os bichos
As gentes
Parar quando quisesse
Seguir quando quisesse também
E talvez voltar mais feliz
Nenhum comentário:
Postar um comentário