I
Que traço, maneio, imagem que sou?
Qual forma, perfil, do rosto, restou?
Escolho uma veste e um humor para o dia
Que não é, finge ser, o que de fato eu seria.
II
O que vive em mim,
Perturba, revira e lateja,
Pois não mostro assim
Pr'um passante que lampeja.
Escondo, tenho medo,
Quero sumir da vista
E da ponta do dedo
Que me julga e revista.
III
Meu dentro verdadeiro
Por vezes emporcalhado,
Noutras, tanto derradeiro
De amores consumados.
Meu secreto que guardo,
Fino, leve e frágil cristal,
Cálice de todo o sagrado,
Montanha de bem e mal.
E se não agrado
Com meu deserto de sal?
IV
Anjo e monstro convivem
Em meio à minha ferrugem.
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