Há tempos não a revisitava:
bendita caderneta, que insiste em tomar espaço em meu criado.
Feita de pequenos pedaços de papel sem pauta,
capa dura de um preto azulado,
ela é devota a mim como uma carola a Deus.
Enfeitada de dobraduras e origamis coloridos e dourados,
tal capa esconde aquela alvura pura das folhinhas...
E nela escrevo o que quero:
meus desejos, rimas e pensamentos.
Formam-se palavras que são o alimento da minha alma e de outras muitas.
Bendita caderneta que não se rebela
e nem repudia as minhas verdades;
não desconjura as minhas maldades
nem a simplicidade da minha vidinha.
Passo-lhe a caneta, o lápis bem apontado, rabisco seus cantos,
esfrego-lhe obstinadamente a borracha!
E ela não reclama, não maldiz meu comportamento.
Por vezes arranco-lhe um teco, de sua parte interior...
E nada!
Não resmunga de descontentamento!!!
Está ali, disposta, aberta ao meu toque quando eu bem entender.
Esta caderneta, querida e cúmplice, me reconforta,
porque pelo menos a ela eu consigo controlar.