- Como assim minina?
- Ué, por que moramos aqui e não em outro lugar, outra cidade?
Era mesmo algo para se perguntar. Estavam praticamente no meio do nada, não tinham laços familiares que as prendessem ali. Então por que?
Antes chamada de Maralina, em 1990 tornou-se distrito de Mara Rosa e, no futuro próximo Amaralina, em Goiás, a mais de 390km da capital, a cidade era pequena e contava com pouco mais de três mil habitantes. Dinha nascera lá, quando ainda era chamada de povoado, numa casinha pequena e humilde na área rural. Na época, a água vinha do poço que ficava na propriedade, não tinham banheiro e o lixo era enterrado ou queimado no terreno baldio mais próximo.
Tião, filho do vizinho, morador da fazenda contígua ao terreno da família de Dinha, crescera junto com ela e mais tarde, se casaram na cerimônia anual que acontecia na igreja do centro da cidade, quando vinha um padre de fora para realizar os matrimônios de todos os noivos da região. Quando da morte do marido, Dinha saiu da cidade e foi para São Paulo, a procura de trabalho. Não conseguia se sustentar sozinha em Maralina e, para viajar, vendeu os três bois que tinha, a cabra e todas as galinhas.
Quando decidiu que cuidaria de Lara, achou melhor voltar para a cidade de onde tinha vindo porque a metrópole tinha sido cruel com ela e achou que a menina merecia lugar melhor para viver. Vendeu as poucas coisas que tinha conseguido adquirir em tantos anos e chegou em Mara Rosa, em 1981, sem eira nem beira, apenas com a velha arca de madeira que fora de sua mãe.
Durante o primeiro ano, ficou hospedada com uma conhecida de sua família e, aos poucos, foi ajeitando a casa onde hoje ela e Lara moravam. Apesar de distante do centro e das escolas, a moradia tinha banheiro, fossa externa e água encanada na cozinha e no chuveiro. Para muitos que ali moravam, isso era um luxo.
- A genti mora aqui purque aqui é nosso lugar!
- Eu não gostei dessa resposta!
- Tá bão! A genti mora aqui purque eu sempre vivi aqui, nasci aqui e a única veiz qui eu num morei aqui, eu mi istrepei. Nessas cidade grandi, num tem ispaço prá genti como a genti, sabe? Achei qui era bom cuidá docê aqui, no meio do verdi e das pranta, cum genti simpres, cum céu istrelado... Essas coisa!
- Hummm.....
- Ocê anda fazeno cada pregunta! É purque cê qué iscreve nu cadernu?
- É.
A menina foi para a cama, deitou de barriga para cima e permaneceu fitando o teto por bastante tempo enquanto pensava sobre sua cidade. Quase não conhecia a história desse lugar, o pouco que sabia aprendera na escola, nas aulas de Regionalidades, que a professora Isaura preparava cuidadosamente uma vez ao mês.
E essas outras cidades grandes? Onde será que ficavam? Já tinha visto alguns mapas nos corredores da escola, com bolinhas enormes, bem diferentes do minúsculo pontinho que demarcava sua cidade. Será que seriam lugares bonitos? Onde será que seus familiares estavam? Sua mãe estaria numa dessas bolinhas enormes do mapa? Seria longe para ir andando? Talvez de charrete?
Pensou alto:
- Preciso de uma bicicleta!
- O qui é qui cê dissi, minina? Bicicreta?
- Ai, não é nada não Dinha, estava falando sozinha.
A menina foi para a cama, deitou de barriga para cima e permaneceu fitando o teto por bastante tempo enquanto pensava sobre sua cidade. Quase não conhecia a história desse lugar, o pouco que sabia aprendera na escola, nas aulas de Regionalidades, que a professora Isaura preparava cuidadosamente uma vez ao mês.
E essas outras cidades grandes? Onde será que ficavam? Já tinha visto alguns mapas nos corredores da escola, com bolinhas enormes, bem diferentes do minúsculo pontinho que demarcava sua cidade. Será que seriam lugares bonitos? Onde será que seus familiares estavam? Sua mãe estaria numa dessas bolinhas enormes do mapa? Seria longe para ir andando? Talvez de charrete?
Pensou alto:
- Preciso de uma bicicleta!
- O qui é qui cê dissi, minina? Bicicreta?
- Ai, não é nada não Dinha, estava falando sozinha.
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