- Por que não temos uma bicicleta?
- Ocê incasquetô cum isso, né?
- Seria bom para chegarmos mais rápido no centro, eu poderia ir para a escola com ela...
- I ocê sabe andá nisso? Purque eu num sei! Já tô é muito véia prá essas coisa...
- Será que é caro?
- Mais é craro. Deve custa os óio da cara. Nóis num tem condição disso mia fia, discurpa.
- Você podia fazer umas comidas gostosas prá gente vender prás moças que trabalham no centro, com o dinheiro a gente comprava a bicicleta, depois eu ía fazendo as entregas andando com ela e...
- Di onde ocê tirô tanta indéia? Foi só ocê fazê deiz ano qui sua cabeça começo a pensá esse mundaréu de coisa amalucada.
- É uma boa idéia! Dinha, fala a verdade, não é boa idéia?
- Num sei não.
Dinha tinha medo das novas idéias de Lara. Percebia a inquietação constante da menina e tinha certeza que logo ela procuraria as respostas para a sua vida, iria atrás do seu destino. E ela ficaria sozinha no mundo, mais uma vez. Sabia que não poderia impedí-la de ir atrás de suas histórias e sonhos mas seu coração queria retardar isso ao máximo.
- Nada di bicicreta. Ocê podi caí, si machucá, si perdê, saí sem rumo por esse mundão...
- Você acha que eu ía fazer uma coisa dessas?
Lara sabia que a pergunta que fazia era parte de um jogo. Claro que a bicicleta facilitaria seu plano irresponsável e infantil de procurar sua família verdadeira mas não queria assumir isso para a madrinha, mesmo sabendo, ao olhar em seus olhos, que ela já tinha entendido tudo o que sua cabeça de criança imaginava.
Foi então que finalmente, após tantos anos de silêncio sobre o assunto, um jorro de perguntas vieram a tona.
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