- Sueli, promete que não conta prá ninguém?
- O quê?
Sueli, magricela da cor de jambo, cabelos crespos feito palha de aço, era a companheira de Lara para todas as horas. Eram cúmplices em quase tudo e andavam sempre de mãos dadas pelos corredores da escola. Brincavam juntas no balanço de madeira e trocavam semanalmente as bonecas de pano, numa espécie de intercâmbio. Estudavam grudadas desde os seis anos e nunca haviam brigado até aquela tarde.
- Vou sair da cidade prá procurar minha família.
- Quê que você disse?
- Pssssiiiuuuu... fala baixo. Não é para ninguém saber que eu vou embora.
- Mas embora prá onde, Lara?
- Não sei ainda, estou pesquisando.
- Você ficou louca? E a sua madrinha?
Lara ficou em silêncio. Lembrou da conversa da noite anterior em sua casa, das mãos da madrinha fazendo comida, da risada banguela que ela tinha. Com a vozinha embargada, engasgou mas tentou mostrar firmeza ao responder:
- Ela fica. Eu vou. Ela já cuidou bastante de mim.
Sueli se afastou. Olhou a amiga de cima embaixo. Começou a ficar enfurecida por dentro, com uma raiva tamanha que tomou conta dela por completo. Pulou em cima de Lara e derrubou-a no chão, deu-lhe um tapa na cara com toda a força que tinha e, ao mesmo tempo, gritou com aquela voz que vem do estômago:
- Sua estúpida! Estúpida! Eu te odeio! Não sou mais sua amiga! Nunca mais!
Logo apareceu a professora Isaura para apartar o incidente. Mal conseguia segurar Sueli que parecia estar fora de si. Lara chorava copiosamente. A sala de aula ficou aquele pandemônio característico de quando acontece uma situação limite. Algumas crianças atônitas, outras gritando também, umas incitando a violência, várias formando uma rodinha observadora e paralisada. Não havia como continuar o conteúdo. Professora Isaura retirou as duas da sala, cada uma foi para um canto. Sueli ficou no banco esperando que seu coração se acalmasse enquanto o inspetor ligava para sua casa. Lara foi lavar o rosto e ficou sentada numa mureta fria do pátio, com o nariz escorrendo e a marca dos dedos de Sueli estampada na bochecha. E a professora, horrorizada com a violência que julgava gratuita, tentava conter a revolta dos companheiros e amigas de cada uma das meninas envolvidas no caso.
Mais tarde, professora Isaura, já na sala dos professores, estaria comentando com seus colegas sobre o fato daquela tarde e a polêmica estaria instaurada. A discussão sobre limites, regras, família, violência e outros temas relevantes deixaria todas aquelas cabeças docentes funcionando freneticamente em busca de respostas e soluções. Mas nem de perto entenderiam as motivações de Lara ou de Sueli porque tinham esquecido como era a infância e como era penoso, nessa idade, perder um amigo para o destino ou deixar para trás aquele que sempre esteve ao seu lado.
- Sua estúpida! Estúpida! Eu te odeio! Não sou mais sua amiga! Nunca mais!
Logo apareceu a professora Isaura para apartar o incidente. Mal conseguia segurar Sueli que parecia estar fora de si. Lara chorava copiosamente. A sala de aula ficou aquele pandemônio característico de quando acontece uma situação limite. Algumas crianças atônitas, outras gritando também, umas incitando a violência, várias formando uma rodinha observadora e paralisada. Não havia como continuar o conteúdo. Professora Isaura retirou as duas da sala, cada uma foi para um canto. Sueli ficou no banco esperando que seu coração se acalmasse enquanto o inspetor ligava para sua casa. Lara foi lavar o rosto e ficou sentada numa mureta fria do pátio, com o nariz escorrendo e a marca dos dedos de Sueli estampada na bochecha. E a professora, horrorizada com a violência que julgava gratuita, tentava conter a revolta dos companheiros e amigas de cada uma das meninas envolvidas no caso.
Mais tarde, professora Isaura, já na sala dos professores, estaria comentando com seus colegas sobre o fato daquela tarde e a polêmica estaria instaurada. A discussão sobre limites, regras, família, violência e outros temas relevantes deixaria todas aquelas cabeças docentes funcionando freneticamente em busca de respostas e soluções. Mas nem de perto entenderiam as motivações de Lara ou de Sueli porque tinham esquecido como era a infância e como era penoso, nessa idade, perder um amigo para o destino ou deixar para trás aquele que sempre esteve ao seu lado.
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