Lara voltou a sua atordoada caminhada, passadas trôpegas porque propôs-se a pisar apenas as pedras grandes. Divertia-se com essa brincadeira, concentrava-se onde seria o próximo passo e qual movimento seria exigido de suas pernocas de taquara. Ria com algumas borboletas que passavam rapidamente sobre sua cabeça e foi esquecendo a dureza que era deixar tudo para trás.
Entretida, não percebeu, de um lado da estrada, aproximar-se o ciclista vendedor de pães caseiros fresquinhos e, de outro, um caminhoneiro cansado, olhos quase cerrados de sono, que guiava seu veículo transportando carga de insumos agrícolas, como adubo orgânico.
O ciclista ainda tentou desviar do curso transviado do caminhão, jogando sua bicicleta contra o acostamento rudimentar de pedregulhos, mas ambos não conseguiram evitar os danos que tal acidente causaria.
Lara só sentiu um tranco nas costas, seguido de um calor que percorreu toda a sua coluna. O corpo da menina, arremessado ao matagal, ainda percebeu o vento, devido a velocidade com a qual era atirado. Não gritou. O choque emudeceu sua boca. Antes de ver tudo desaparecer e nada mais enxergar, o sol e o céu azul se esvaindo devagar, ela ainda teve a sensação morna e molhada do sangue que escorria pela perna direita. Nada lhe passou em mente, nenhum filme dos melhores momentos de sua vida, nenhuma lembrança romântica, como acontecia nos filmes que via nas sessões da tarde.
Foi assim. No meio de baguetes quantinhas, eixo de roda, corrente de bicicleta e extrume que o destino da garota estava sendo forjado.
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