quinta-feira, 30 de junho de 2011

7:40 - Metrópole

A turba já chega de olhos fundos,
Os rostos estampam noite mal dormida.
Fitam as janelas desejando os assentos,
Esperam no olhar alguma acolhida.
E as portas se abrem como fossem do céu
Mas não, são de uma lataria sobre trilhos,
Que transporta as gentes, os seus e os meus,
Levando sonhos, sacolas e filhos.
Superlotado, impossível adentrar,
Segue outro vagão enquanto eu possa esperar.
- O tempo é cruel, certeiro se esvai...
A longa espera finalmente termina.
Não que o trem tenha ficado vazio
Mas porque o compromisso assim determina.
Tomo ar, encho o peito de oxigênio precário,
Peço desculpas, piso pés, entro determinada.
Esmagada entre o vidro e as coxas do operário,
Sigo meu caminho, pensativa e envergonhada:
Um desconhecido grudado em mim,
O corpo colado e eu nada posso fazer.
É um ajuntamento de pessoas sem fim,
Imóveis, silenciosas, aguardam o moço dizer:
- Estação Sé... desembarque pelo lado esquerdo do trem.
E o povo, amontoado, sai por um lado,
Enquanto outros tantos empurrados já vem.
(quase que me levam também)
Lusco-fusco verde nesses túneis de zunido,
Atenta ao que passa para esquecer o calor.
Ironia meu destino ser o Paraíso,
Depois dos dissabores infernais do metrô.

terça-feira, 28 de junho de 2011

"Depois do Café Filosófico de José Miguel Wisnik" ou "Melancolia"

Corpo sem casa.
Visito a cama que durmo, diariamente.
Nem parece minha.
Tem meu cheiro no travesseiro mas não sinto saudade.
Onde é que eu estive durante esses anos?
Estranha, de fora,
Perdida nesse lugar tão comum,
Forasteira na própria história.
Nenhuma fotografia ou marca ou mancha nas paredes
Faz-me lembrar do tempo em que estive presente.

Longe de casa.
Visito meu coração e sumo, diariamente.
Nem parece meu.
Tem nele seu nome gravado e eu sinto tanta saudade.
Onde você esteve durante esses anos?
Estranho, de fora,
Perdido nesse lugar tão comum.
Forasteiro na nossa história.
E todas as fotografias e marcas e manchas nas paredes
Fazem-me lembrar do tempo em que esteve presente.
E ausente.

Volta e devolve o que você me tomou
E se quiser, pode ir, mais tarde...
Mas deixe o riso
E a sensação de que pertenço a esse lugar.
Deixe o gosto doce de saber que eu tenho a mim.
Por hora, agora,
É só vazio, imensidão, ecos que tintilam a sua voz
Pelos cantos da sala e da memória.

Remédios para dormir.
Quero estar em casa de novo.

domingo, 19 de junho de 2011

Junho

Respirar profundamente.
Falta de ar.
Cof, cof, cof, cof.
Viver tão intensamente.
Custa meu ar.
Cof, cof, cof, cof.

Infla o peito, sopra balão,
Filtra tudo e enche o pulmão.
Cof, cof, cof, cof.
Medicação, inalação, oração,
Prescrição, internação.
Cof, cof, cof, cof.

Pneumonia?
Não, esta não é a razão!
Cof, cof, cof, cof.
São desavenças do coração.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

A Menina que Dorme com as Estrelas

Ri, alma de criança.
Ama, cheia de esperanças no
Instante fulgáz que é a vida.
Sabe-se lá o que está por vir?!
Saudade grande que sinto de ti
Agora que és apenas lembrança.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Inverno

O assovio do frio
Zune em minha cabeça
- Turbilhão de curtos filmes.
As pontas dos dedos
Arroxeadas, geladas,
Seguram o giz e a caneta
- Titubeam em trabalhar.
Afinal as cobertas,
Tão acolhedoras,
Esperam o corpo esguio
Acomodar-se para repousar
- Tentação jogar-se na cama
Por horas a fio.
A solidão do frio:
Quando os pés não encontram o par,
Quando a criança dorme ao luar
Ou quando a pilha de agasalhos
Mofa dentro dos armários,
Enquanto a televisão dispara
Notícias de mortes congelantes.
A neblina do frio
Disfarça a paisagem e o rosto
- Marcado - envelheci.
A ponta do nariz
Vermelha e pálida
Teima em respirar teu cheiro
- Impregnado nas lãs e malhas.
E o amor,
Resistente a seca,
Encharcado de garoas de inverno,
Paciente adormecido aguarda:
Que em meio a fumaça no banheiro,
Da água quente que se derrama do chuveiro,
Eu veja, estampado no espelho,
Um coração desenhado com a mão
Que guarda meu nome e o seu.
Então inverno será verão.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Outra Direção

Espero.
Conto os dias.
Pago as contas.
Canto uns versos no banho.

Espero.
Choro uns dias.
Perco as contas
Dos perdões e palavras malditas.
Me estranho.

Espero.
Muitos dias...
Me dou conta
De que não há canto, nem banho,
Nem verso, nem choro
Que devolva.
Então eu sigo.

sábado, 4 de junho de 2011

Sábado

Quase silêncio.
Barulhinho da respiração congestionada da filha que dorme.
Som dos dedos em contato com as teclas, teimosos que são, em escrever devaneios.
Ás vezes, o ruído dos carros na rua movimentada, cortam o final de noite fria.
Quase silêncio.
Porque mesmo que o mundo parasse, ainda sobrariam os gritos dos pensamentos.
E os sussurros dos desejos.
E o chorinho amargo da solidão.