I
As caixas amontoavam-se pela sala,
Em todos os cômodos, no porão.
Itens básicos, do comer de sempre.
Conferíamos e separávamos fichas,
Sacolas de brinquedos coloridos.
Foi na casa da vizinha, Teresinha,
Onde aprendi o que era caridade.
II
Foi minha mãe por um dia,
Enquanto a verdadeira,
Desesperada mas não rendida,
Acompanhava a outra cria,
Durante os pontos na cabeça.
Passei a tarde brincando...
Vi desenhos na televisão,
Tomei uma sopa a noite
E senti-me segura:
Ninguém ía morrer.
III
Fazia um bolo de chocolate batido em liquidificador
Que era tudo de bom na minha vida de menina!
Adorava comê-lo ao lado dela e dos amigos que amava.
Já mais velha e mais sozinha, repeti a receita em casa
(para sentir de novo o gosto gostoso da infância).
Foi bom.
Bom demais.
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