Leva, pela estrada, sem rédeas curtas
Corcel negro, noturno, pintado de estrelas
E passeia sem medo em meio as brumas
Ouvindo cigarras, como queria tê-las
Bem perto, cantando, ao pé do ouvido,
Melodias da terra e dos mortos além.
Cavalga sozinha e tem os olhos ardidos
Do vento revolto, soprando num vai e vem.
Indomada, mal(dita), seu ventre de sol
Ofusca, irradia indecifrável segredo.
Deixa que o cheiro do orvalho e do verde
Penetre nos poros, até suas entranhas
E bebe do rio para saciar sua sede...
Escalda os pés onde a água se assanha.
Despida dança, o fogo, o fruto, a lua
E esquece o corpo jogado entre a relva
Que cobre-na como fosse pérola sua.
Loba de mim, centelha de sonho na selva.
Atenta, bem(dita), seu sexo de luz
Ilumina, orienta amores e enlevos.
Corre os olhos nas folhas, plantas, sereno
Sabe que está em tudo ao redor:
Presente, fincada, a Terra dá-lhe um aceno
E afaga os cabelos soltos com velho amor.
Dorme tranquila rodeada de vagalumes,
Imersa em sono seguro, de cura sem fim.
E na aurora, tão forte, sua vida reassume.
Sela e segue, determinada, loba de mim.
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