Silentes, dispostos frente a televisão
- os olhos nem reparam no programa -
Tentam ser juntos sem dar as mãos,
Não se tocam e ninguém reclama...
Ausentes, perderam o foco e o chão
Em comum já não há nem a cama
E para cada sim existe sempre um não
Que dói, sangra, murcha e inflama.
Esvaiu-se, aos poucos, aquela ligação
Que os tornavam deliciosa chama,
Dando lugar a tempestuosa solidão.
Viram-se presos a uma torta trama
De medo, mentiras, perda e obrigação.
Distantes, acostumados, sem drama.
segunda-feira, 29 de outubro de 2012
domingo, 28 de outubro de 2012
Maternidade
Tranço, paciente, um ninho
De sempre-vivas e dentes de leão,
Que vai ninar com terno carinho,
Embalando como fosse uma mão.
De Héstia, carrego uma filha
Nesse ventre que move a Terra
E com ela minh'alma partilha
Tudo o que no amor se encerra.
Preparo com doce cuidado,
Que sinta-se tão bem amada
E no seio encontre selado
Laço de nos por em caminhada,
Companheiras em lado a lado,
Na solidão dessa vida-estrada.
De sempre-vivas e dentes de leão,
Que vai ninar com terno carinho,
Embalando como fosse uma mão.
De Héstia, carrego uma filha
Nesse ventre que move a Terra
E com ela minh'alma partilha
Tudo o que no amor se encerra.
Preparo com doce cuidado,
Que sinta-se tão bem amada
E no seio encontre selado
Laço de nos por em caminhada,
Companheiras em lado a lado,
Na solidão dessa vida-estrada.
Velho
Tuas cores tão cálidas
No lençol vermelho
De puro algodão,
Contrastam, pálidas,
Miradas no espelho
Da fugás ilusão
De tê-la somente
E tão só para mim
- eu deserto de gentes -
Num escuro sem fim.
Teus braços repousam
Sobre meus cabelos
Grisalhos da vida.
Tuas asas pousam
Lisinhas, sem pêlos,
Encobrindo as feridas
Abertas, são vertentes
De um gosto ruim.
E só você, tão indulgente,
É senhora capaz de dar fim.
Mas devo-me confessar
Que imerso em pecados
De amor, vivo sem paz.
Ah, desejo te beijar,
Comê-la aos bocados
Sem essa culpa voraz,
De sabê-la amante
Mas querer-te inteira,
Por todo o instante
E de toda a maneira.
Para que eu seja feliz.
Um velho feliz
E não só um velho.
No lençol vermelho
De puro algodão,
Contrastam, pálidas,
Miradas no espelho
Da fugás ilusão
De tê-la somente
E tão só para mim
- eu deserto de gentes -
Num escuro sem fim.
Teus braços repousam
Sobre meus cabelos
Grisalhos da vida.
Tuas asas pousam
Lisinhas, sem pêlos,
Encobrindo as feridas
Abertas, são vertentes
De um gosto ruim.
E só você, tão indulgente,
É senhora capaz de dar fim.
Mas devo-me confessar
Que imerso em pecados
De amor, vivo sem paz.
Ah, desejo te beijar,
Comê-la aos bocados
Sem essa culpa voraz,
De sabê-la amante
Mas querer-te inteira,
Por todo o instante
E de toda a maneira.
Para que eu seja feliz.
Um velho feliz
E não só um velho.
quinta-feira, 25 de outubro de 2012
Doce Desejo
Venha doce morte
Sangrar a solidão,
Que deitou-me no chão
Tecendo seus cortes.Leva no teu braço
As dores de sempre
Do ser tão ausente
De mim, ser escasso.
Que já não me sinto
Nem sinto ninguém.
Torna-me um refém
Do teu fel de absinto.
Sim, leva-me embora
De olhos bem abertos
Verei teus desertos
Com prazer na demora.
Venha doce morte,
Com olor de dália,
Dar fim ao que talha
Essa vida sem sorte.
sábado, 20 de outubro de 2012
Sem Fim
Deita, amor, teu corpo morno
Que os meus desejos são teus,
Se eu corro, diga que me laça
Com beijos, volúpia e paixão.
Que os meus desejos são teus,
Se eu corro, diga que me laça
Com beijos, volúpia e paixão.
Dorme, amor, dorme teu sono
E descansa teus pés nos meus,
Por entre essa noite que passa
De estrelas, sonhos e algodão.
Acorda, amor, desse abandono
Descubra-me nua entre os véus,
Mais uma vez sou tua doce caça,
Sem horas, sem mas e sem não.
quinta-feira, 18 de outubro de 2012
Poesia
Vou te comendo pelas beiradas
Vez enquando, uma mordida,
Mas te desejo, enfim despida,
Para que eu viaje tuas estradas.
E te saboreie como uma amiga,
Como uma puta ou descasada.
De você, não restará nada
- não pouparei nem as feridas.
Te quero toda, inteira para mim,
Os teus segredos, sons e manias,
Exalando perfume de jasmim.
O prazer da carne de uma vadia
Ou a ternura de um querubim.
Tudo, tudo de ti, minha poesia.
Vez enquando, uma mordida,
Mas te desejo, enfim despida,
Para que eu viaje tuas estradas.
E te saboreie como uma amiga,
Como uma puta ou descasada.
De você, não restará nada
- não pouparei nem as feridas.
Te quero toda, inteira para mim,
Os teus segredos, sons e manias,
Exalando perfume de jasmim.
O prazer da carne de uma vadia
Ou a ternura de um querubim.
Tudo, tudo de ti, minha poesia.
quarta-feira, 17 de outubro de 2012
Catarina
Um pijama rosa de flores miúdas
Repousava sobre sua pele fininha.
Os cabelos brancos, lisos, ralos,
Emolduravam teu rosto rugoso,
Sorrindo sóis de histórias da roça.
Cera para brilhar o piso vermelho.
Leite de rosas cheiravam as roupas.
Pó para as têmporas no toucador.
Um jardim pequeno de lindas mudas
E tortilhas de ovos com batatinhas.
Mãos disformes, suaves, em calos,
Cozinhavam o simples mas gostoso.
"- Permaganato para quando coça!"
"- Não fique vesga olhando o espelho!"
Especiais memórias, ainda que poucas,
Daquela que foi, sem fim, amor.
Repousava sobre sua pele fininha.
Os cabelos brancos, lisos, ralos,
Emolduravam teu rosto rugoso,
Sorrindo sóis de histórias da roça.
Cera para brilhar o piso vermelho.
Leite de rosas cheiravam as roupas.
Pó para as têmporas no toucador.
Um jardim pequeno de lindas mudas
E tortilhas de ovos com batatinhas.
Mãos disformes, suaves, em calos,
Cozinhavam o simples mas gostoso.
"- Permaganato para quando coça!"
"- Não fique vesga olhando o espelho!"
Especiais memórias, ainda que poucas,
Daquela que foi, sem fim, amor.
terça-feira, 16 de outubro de 2012
Mais querer
Sorriso dos olhos brilhantes
Fitam a foto de um querido morto,
Saudosos, percorrem detalhes e tons
- desejam guardar as cores e contornos -
E surpreendidos, em minutos, afogam-se...
É tarde de cheia por trás das lentes.
Pois reveêm aquele instante:
Em que o tempo parou e ficou absorto
Nas carícias de amor, gemidos e sons,
No ar suspenso do respiro morno,
No louco cio que entregaram-se...
E a eternidade findou de repente.
Restou o gosto do mais querer.
Fitam a foto de um querido morto,
Saudosos, percorrem detalhes e tons
- desejam guardar as cores e contornos -
E surpreendidos, em minutos, afogam-se...
É tarde de cheia por trás das lentes.
Pois reveêm aquele instante:
Em que o tempo parou e ficou absorto
Nas carícias de amor, gemidos e sons,
No ar suspenso do respiro morno,
No louco cio que entregaram-se...
E a eternidade findou de repente.
Restou o gosto do mais querer.
sexta-feira, 12 de outubro de 2012
Maldade
Não me encoste,
Nem se instale,
Fique longe de mim.
Que não quero ver o mundo com ferpa nos olhos
E nem descrença nas gentes, ao menos por agora.
Desejo-te morta,
Onde o cheiro não voa
Ou bem perto do nada,
Lá quando finda a estrada,
Naquele vazio remoto
Em que arremessamos as pedras que nos acertaram.
Vai-te embora,
Por hora,
Para que eu durma um sono de trégua,
Sem o peso descabido da vergonha que sinto deles:
Os homens maus.
Nem se instale,
Fique longe de mim.
Que não quero ver o mundo com ferpa nos olhos
E nem descrença nas gentes, ao menos por agora.
Desejo-te morta,
Onde o cheiro não voa
Ou bem perto do nada,
Lá quando finda a estrada,
Naquele vazio remoto
Em que arremessamos as pedras que nos acertaram.
Vai-te embora,
Por hora,
Para que eu durma um sono de trégua,
Sem o peso descabido da vergonha que sinto deles:
Os homens maus.
quinta-feira, 11 de outubro de 2012
Sertão
Árida terra em que o pensamento flutua.
Na verdade, suspenso.
A cor
O som
O rio
O céu
- tudo secou sem aviso.
Não restou eco nem registro,
Apenas os cantos dos olhos
- marcados de tênues linhas.
Solidão da sombra de um cajueiro
E de uma pedra muda no meio da caatinga.
Na verdade, suspenso.
A cor
O som
O rio
O céu
- tudo secou sem aviso.
Não restou eco nem registro,
Apenas os cantos dos olhos
- marcados de tênues linhas.
Solidão da sombra de um cajueiro
E de uma pedra muda no meio da caatinga.
quinta-feira, 4 de outubro de 2012
Destitulado
.
Só.
Sem.
Nada.
Vazio.
Imenso.
Intenso.
Profundo.
Isolada.
Imersa.
Fundo.
Ermo.
Nem.
Eu.
.
Só.
Sem.
Nada.
Vazio.
Imenso.
Intenso.
Profundo.
Isolada.
Imersa.
Fundo.
Ermo.
Nem.
Eu.
.
quarta-feira, 3 de outubro de 2012
Notas para quando?
I
Vertigem, desando
No sempre trajeto
- sem graça, tão reto -
Para quem está amando...
II
Pregados no teto
Os meus pés olhando
Contrários experimentando
- das paixões aos dejetos.
III
Sem pudor eu mando
Que cale e engula teu veto.
Vertigem, desando
No sempre trajeto
- sem graça, tão reto -
Para quem está amando...
II
Pregados no teto
Os meus pés olhando
Contrários experimentando
- das paixões aos dejetos.
III
Sem pudor eu mando
Que cale e engula teu veto.
Deus Lua
No negro infinito
O disco amarelo
Feito um maná
Pendurado chora
Dores de amor
Febres dos sem
E luze tão cheio
Sozinho é alvo
De olhar sedento
De respostas vãs
Reflete espadas
De Jorge e outros
Que golpeiam
Sem dó ou culpa
Teu brilho e halo
E confidenciam
Desejos secretos
A este deus lua
Piedoso e eterno
O disco amarelo
Feito um maná
Pendurado chora
Dores de amor
Febres dos sem
E luze tão cheio
Sozinho é alvo
De olhar sedento
De respostas vãs
Reflete espadas
De Jorge e outros
Que golpeiam
Sem dó ou culpa
Teu brilho e halo
E confidenciam
Desejos secretos
A este deus lua
Piedoso e eterno
terça-feira, 2 de outubro de 2012
Pequenos
Luzem, pequenos, multicoloridos
Na areia, com seus brinquedos de cavar.
Correm descalços, sobem em mastros,
Balançam, sorrindo, no ar...
Descobrem bichinhos e pedras de brilho,
Rolam no chão como estivessem no mar.
Gangorras que sobem até o céu
E cordas tão grandes para escalar.
Água da bica que escorre na boca,
Esquecem do tempo, só querem ficar...
Estão tão felizes sentindo o mundo
E que não acordem, fiquem a sonhar!
Na areia, com seus brinquedos de cavar.
Correm descalços, sobem em mastros,
Balançam, sorrindo, no ar...
Descobrem bichinhos e pedras de brilho,
Rolam no chão como estivessem no mar.
Gangorras que sobem até o céu
E cordas tão grandes para escalar.
Água da bica que escorre na boca,
Esquecem do tempo, só querem ficar...
Estão tão felizes sentindo o mundo
E que não acordem, fiquem a sonhar!
segunda-feira, 1 de outubro de 2012
Testamento
Dez quadros de colagens contemporâneas feitas com ingressos de todos os tempos
Outras tantas aquarelas de anelinas multicores
Um terço de contas brancas que foi de mamãe
Dois colares de botões coloridos trançados em linha de bordar
Um piercing e uma aliança de ouro de verdade que não serve mais
Um pen drive de 8 giga com todos os arquivos relevantes e irrelevantes
Domínio de um blog e-book
Centenas de fotos, de músicas próprias cifradas e poesias datilografadas ainda
Muitas roupas gastas e sem grife nenhuma
Esmaltes velhos, maquiagens novas e sapatos de pontas arredondadas (viajantes)
Duas coroas de sempre-vivas
Um caderno de receitas suculentas todas testadas
Mais de duzentas conchas vindas da praia Preta de São Sebastião
Presilhas de fuxico de retalhos de tecidos baratos
Uma coleção de pedras de todos os lugares que os amigos foram
Um tapete de barbante cru costurado em crochê e toalhinhas de tom rosa
Pouco dinheiro no banco
Três estojos de lápis de cor importados
Uma linda pitangueira que não foi para o jardim e permanece no vaso
Um carro sem revisão
Trinta e duas mandalas pintadas a mão em dias de fúria, de tristeza ou de alegria
Um violão elétrico com novas cordas de naylon de boa marca (seu grande amor)
Centenas de livros interessantes e porcarias, além de revistas desimportantes
Uma rede
Uma fita K7 gravada em casa, em 1997, voz e violão, com músicas próprias
Um vestido de noiva costurado para um único corpo
Três medalhas de ouro de festivais de canção
Um presépio costurado em feltro durante noites de insônia
Uma caixa de costuras customizada e cheinha de agulhas
Diversas plantas incluindo orquídeas perenes
Uma casa com muitas histórias
Vinte e quatro tomos com a obra completa de Machado de Assis, edição de 1967
Incontáveis poemas e textos, de todos os gêneros, de 1994 até a presente data
Uma pulseirinha da maternidade do dia do nascimento da primeira filha
São Paulo, 01 de outubro de 2012.
Outras tantas aquarelas de anelinas multicores
Um terço de contas brancas que foi de mamãe
Dois colares de botões coloridos trançados em linha de bordar
Um piercing e uma aliança de ouro de verdade que não serve mais
Um pen drive de 8 giga com todos os arquivos relevantes e irrelevantes
Domínio de um blog e-book
Centenas de fotos, de músicas próprias cifradas e poesias datilografadas ainda
Muitas roupas gastas e sem grife nenhuma
Esmaltes velhos, maquiagens novas e sapatos de pontas arredondadas (viajantes)
Duas coroas de sempre-vivas
Um caderno de receitas suculentas todas testadas
Mais de duzentas conchas vindas da praia Preta de São Sebastião
Presilhas de fuxico de retalhos de tecidos baratos
Uma coleção de pedras de todos os lugares que os amigos foram
Um tapete de barbante cru costurado em crochê e toalhinhas de tom rosa
Pouco dinheiro no banco
Três estojos de lápis de cor importados
Uma linda pitangueira que não foi para o jardim e permanece no vaso
Um carro sem revisão
Trinta e duas mandalas pintadas a mão em dias de fúria, de tristeza ou de alegria
Um violão elétrico com novas cordas de naylon de boa marca (seu grande amor)
Centenas de livros interessantes e porcarias, além de revistas desimportantes
Uma rede
Uma fita K7 gravada em casa, em 1997, voz e violão, com músicas próprias
Um vestido de noiva costurado para um único corpo
Três medalhas de ouro de festivais de canção
Um presépio costurado em feltro durante noites de insônia
Uma caixa de costuras customizada e cheinha de agulhas
Diversas plantas incluindo orquídeas perenes
Uma casa com muitas histórias
Vinte e quatro tomos com a obra completa de Machado de Assis, edição de 1967
Incontáveis poemas e textos, de todos os gêneros, de 1994 até a presente data
Uma pulseirinha da maternidade do dia do nascimento da primeira filha
São Paulo, 01 de outubro de 2012.
O depois da fruição das obras de Nino Cais
Sou também meus pertences,
Aqueles que não deixo escapar:
Um cesto, uma orquídea,
Um travesseiro, uma caderneta,
Uns panos de pia bordados.
Era para estar estampada,
No meu documento original,
A foto da árvore do meu jardim.
Aqueles que não deixo escapar:
Um cesto, uma orquídea,
Um travesseiro, uma caderneta,
Uns panos de pia bordados.
Era para estar estampada,
No meu documento original,
A foto da árvore do meu jardim.
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