Um pedaço de mim morreu
Na tarde em que vi teus olhos
Marejados, acuados de medo,
Esquivos no canto do quarto,
Qual bicho pequeno em perigo
E o perigo era eu.
Um pedaço de mim morreu
Na tarde em que te roubei o riso
Para dar-te o pranto, o grito,
O jogar-se ao chão de dor,
Qual criança pequena oprimida
E a opressão era eu.
Um pedaço de mim morreu
Na tarde em que eu era mãe,
Mais uma vez e como sempre,
Na cruel tentativa tola de educar,
Qual ser perdido em perguntas
E as respostas não existiam.
A única certeza do agora
É que um pedaço de mim morreu.
segunda-feira, 19 de novembro de 2012
domingo, 18 de novembro de 2012
Depois de ver os 40 cliques de Jana Romanova ou Poema para "Waiting"
Grudados.
Cobertos.
Esparsos.
De lado.
Separados.
Nús.
De viés.
Jogados.
Descobertos.
Laçados.
No colo.
Descabelados.
Vestidos.
Abraçados.
De costas.
Trançados.
Silentes.
Tortos.
Quentes.
Contrários.
Juntinhos.
Cansados.
Cúmplices.
Sonhando.
Dividindo.
Carinhando.
Refazendo.
Pausando.
Dormindo.
Esperando.
Cobertos.
Esparsos.
De lado.
Separados.
Nús.
De viés.
Jogados.
Descobertos.
Laçados.
No colo.
Descabelados.
Vestidos.
Abraçados.
De costas.
Trançados.
Silentes.
Tortos.
Quentes.
Contrários.
Juntinhos.
Cansados.
Cúmplices.
Sonhando.
Dividindo.
Carinhando.
Refazendo.
Pausando.
Dormindo.
Esperando.
Hora de Dormir
O toque macio
Do fio de algodão
Do roxo edredom.
Carinho suave
Na sola seca,
Que nem sente,
Amiúde, o grão
Tão pequeno
Da barra vegetal
De esfoliante.
Os pés procuram
O doce conforto
De largarem-se
À deriva,
Em texturas
Bem acolhedoras.
O frio liso
Do percal egípcio
Ou o repuxo quente
Do lençol de malha.
Os dedos finos
Emaranham-se
Nesses contrastes.
Ora afundam-se
No visco elástico,
Ora beiram
As beiras da cama.
Melhor, afagam-se,
Pele com pele,
Até adormecerem.
Descansam felizes.
Sentem-se em casa.
Do fio de algodão
Do roxo edredom.
Carinho suave
Na sola seca,
Que nem sente,
Amiúde, o grão
Tão pequeno
Da barra vegetal
De esfoliante.
Os pés procuram
O doce conforto
De largarem-se
À deriva,
Em texturas
Bem acolhedoras.
O frio liso
Do percal egípcio
Ou o repuxo quente
Do lençol de malha.
Os dedos finos
Emaranham-se
Nesses contrastes.
Ora afundam-se
No visco elástico,
Ora beiram
As beiras da cama.
Melhor, afagam-se,
Pele com pele,
Até adormecerem.
Descansam felizes.
Sentem-se em casa.
segunda-feira, 12 de novembro de 2012
Teres Humanos
Uma valsa fora de compasso
Num rádio tocando sem sintonia.
Os corpos dançam
Desmiolados, escalafobéticos,
Nas intermináveis avenidas
Da metrópole cinza cimentada.
Um meteoro que cai do espaço
Num mundo que contrário rodopia.
Os corpos queimam
Carbonizados, zumbis-atléticos,
Nas valas sempre esquecidas
Das memórias sedimentadas.
Entre este bailar tão crasso
E o fim de tudo, que se anuncia,
Os corpos amam
Desconsolados, assépticos,
Em desventuras bem conhecidas
Da vida fútil e quantificada.
Num rádio tocando sem sintonia.
Os corpos dançam
Desmiolados, escalafobéticos,
Nas intermináveis avenidas
Da metrópole cinza cimentada.
Um meteoro que cai do espaço
Num mundo que contrário rodopia.
Os corpos queimam
Carbonizados, zumbis-atléticos,
Nas valas sempre esquecidas
Das memórias sedimentadas.
Entre este bailar tão crasso
E o fim de tudo, que se anuncia,
Os corpos amam
Desconsolados, assépticos,
Em desventuras bem conhecidas
Da vida fútil e quantificada.
quinta-feira, 8 de novembro de 2012
O Vazio
Eu vejo o teu vazio.
Eu sinto o teu vazio.
Eu choro o teu vazio.
Dói estar perto
E não completar,
Não ser o suficiente.
O que te acalma.
O que te responde.
Eu vejo uma menina:
Perplexa,
Assustada,
Só para sempre.
(como eu era)
(como eu sou)
Somos todas.
Todos.
O que posso fazer
E estar,
É ficar assim quieta
Mas presente.
Segurar a tua mão
Antes de dormir,
Ao atravessar a rua.
Quando quiser.
Acordo para te ver,
Te cobrir,
Perceber se respira.
Quero te proteger.
Te guardar
Do medo,
Da crueldade,
Do sem sentido.
Em vão.
Posso te dar
O não saber,
A incompletude,
Os erros,
O tentar ser.
Você está gravada
No meu seio,
No meu púbis,
Nas entranhas,
Desejos,
Orações,
No todo pouco que sou.
Então te acalanto
Enquanto sangramos.
Nós duas aqui
Dançando no chuveiro,
Batendo claras em neve,
Rodopiando os vestidos,
Procurando...
Escarafunchando
As gavetas da alma,
As maldades do mundo,
Nossa solidão.
Duas borboletas perdidas
No ritmo,
Na cidade,
No meio do nada,
Nos sonhos sem fim.
Tuas pelúcias no quarto
Contrastam
Com tuas perguntas
No vácuo,
Com a acidez
De subir o vidro no farol,
Com a aspereza
Das gravatas de seda
Que perambulam pelo centro.
Não posso
Te fechar os olhos,
Anestesiar teus poros
Ou tapar teus ouvidos.
Você já sabe do vazio.
Nós vemos o vazio.
Nós sentimos o vazio.
Nós choramos o vazio.
Eu sinto o teu vazio.
Eu choro o teu vazio.
Dói estar perto
E não completar,
Não ser o suficiente.
O que te acalma.
O que te responde.
Eu vejo uma menina:
Perplexa,
Assustada,
Só para sempre.
(como eu era)
(como eu sou)
Somos todas.
Todos.
O que posso fazer
E estar,
É ficar assim quieta
Mas presente.
Segurar a tua mão
Antes de dormir,
Ao atravessar a rua.
Quando quiser.
Acordo para te ver,
Te cobrir,
Perceber se respira.
Quero te proteger.
Te guardar
Do medo,
Da crueldade,
Do sem sentido.
Em vão.
Posso te dar
O não saber,
A incompletude,
Os erros,
O tentar ser.
Você está gravada
No meu seio,
No meu púbis,
Nas entranhas,
Desejos,
Orações,
No todo pouco que sou.
Então te acalanto
Enquanto sangramos.
Nós duas aqui
Dançando no chuveiro,
Batendo claras em neve,
Rodopiando os vestidos,
Procurando...
Escarafunchando
As gavetas da alma,
As maldades do mundo,
Nossa solidão.
Duas borboletas perdidas
No ritmo,
Na cidade,
No meio do nada,
Nos sonhos sem fim.
Tuas pelúcias no quarto
Contrastam
Com tuas perguntas
No vácuo,
Com a acidez
De subir o vidro no farol,
Com a aspereza
Das gravatas de seda
Que perambulam pelo centro.
Não posso
Te fechar os olhos,
Anestesiar teus poros
Ou tapar teus ouvidos.
Você já sabe do vazio.
Nós vemos o vazio.
Nós sentimos o vazio.
Nós choramos o vazio.
segunda-feira, 5 de novembro de 2012
Minha Bailarina
Banho teus pés na pia:
Juntas rimos do todo molhado
E dos seus dedos encardidos.
Do amor eu achava que nada sabia
Até você vir, rebento esperado,
Com seu brilho de astro destemido.
Descansa as pernas de menina,
Abandona a cabeça em meu peito,
Que é seu todo o carinho.
Exausta de ser bailarina,
Tanto rodopiou que deixou desfeito
O cabelo dourado e fininho.
Agora dorme comigo criança,
Deita os teus sonhos coloridos
Neste meu colo cansado.
Leva meu pensar na tua dança,
Cheia de mágicas, bichos e amigos,
Para eu relembrar meu doce passado.
Juntas rimos do todo molhado
E dos seus dedos encardidos.
Do amor eu achava que nada sabia
Até você vir, rebento esperado,
Com seu brilho de astro destemido.
Descansa as pernas de menina,
Abandona a cabeça em meu peito,
Que é seu todo o carinho.
Exausta de ser bailarina,
Tanto rodopiou que deixou desfeito
O cabelo dourado e fininho.
Agora dorme comigo criança,
Deita os teus sonhos coloridos
Neste meu colo cansado.
Leva meu pensar na tua dança,
Cheia de mágicas, bichos e amigos,
Para eu relembrar meu doce passado.
Poucas Semanas
Largo tempo
Lento ritmo
Denso andar
Tênue olhar
Curto respiro
Corpo redondo
Vadio repouso
Morno abrigar
Calmo cuidado
Feliz preparo
Infinito céu azul da espera:
Esperar, esperar, esperar.
Lento ritmo
Denso andar
Tênue olhar
Curto respiro
Corpo redondo
Vadio repouso
Morno abrigar
Calmo cuidado
Feliz preparo
Infinito céu azul da espera:
Esperar, esperar, esperar.
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