Ver morrer um filho é ganhar um nó na garganta, que deseja desatar em gritos pela duração da eternidade. Engasgar e permanecer perplexo, pairando sobre a própria existência, anestesiado até as entranhas. Aguar-se às escondidas para não incomodar felicidades alheias. Tocar, sem demora, os outros tantos que ama, para não despertar-lhes aquela caridade piedosa; ou pior, por terror instantâneo de apegar-se ainda mais, a todos que vão. E ver tudo seguir, pela fresta da janela poeirenta daquele cômodo, em que se instalou temporariamente, apenas para se proteger dela: a vida.
- Pára o mundo que eu quero descer!
Longo mergulho, sem respiro, toneladas amarradas ao corpo rumo ao escuro, vazio, sem som, da solidão. Quando, então, os pés tocam o fundo viscoso desse poço quase sem fim, só poderá ser deles a força e o impulso para retornar à superfície; subir à tona para observar, cuidadosamente, a nova vista. E enfim apreciá-la, sem a pena da memória, só com o sabor da saudade.
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