Estão lá, gravadas na alma, todas as experiências, sensações, imagens abstratas de cada contato travado com o outro. Fico pensando que mar sem fim é esse de mim e que cabe nesse meu corpo de cinquenta e cinco quilos.
Ela pulsa e vibra e rodopia quando durmo, viajando entre os astros, ansiosa para desprender-se de mim mais uma vez na próxima noite. Percebo que é por isso que, vez ou outra, acordo cansada, como se tivesse passado a noite numa festa. Ou então, abro os olhos e ainda vejo estrelas...
Ela carrega meus hábitos, vícios, mazelas e maldades. Eu devo consertá-la, com frequência, para que não fique inutilizável. É preciso curativos, bandagens... As crianças costumam ter os mais eficazes unguentos para a alma: trazem carinho nas mãos, verdades na boca e anjos no olhar. Como num passe de mágica, são capazes de revitalizar nosso dentro sem deixar rastros.
Mas é também ela que sustenta minha moral, minha ética, minha espiritualidade e todas as outras virtudes que venho cultivando, cautelosamente, há milênios.
Ainda bem que eu não a vejo. Acredito que se ela tivesse uma forma, seria disforme, uma coisa assim torta e estranha, meio feia e meio bonita, uma mistura de azedo e doce.
Acho que a alma deve ser um algo confuso. Com tanta coisa ali, boa e ruim, velha e nova, quase nem acho palavras para descrevê-la.
Umas palavras que me lembram alma e que fazem sentido, para mim, na comparação do que eu imagino que ela seja, com o que conheço de concreto são "samba", "babel", "Lua" ou expressões inexistentes como "coisa coisada".
Eu queria mesmo poder escrever sobre a alma porque é um jeito de entender melhor o que a gente não compreende. A palavra ajuda a pensar e o pensamento ajuda a construir palavras... Na verdade, era essa a intenção do texto. Mas já vi que não vai dar. A alma vai ficar para depois.
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