quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Vaidade

O dia nublado não era indício de coisas grandiosas na sua rotina.
Caminhava demoradamente na larga passarela ladrilhada que atravessava a avenida.
A moça, bem comportada em seu conjunto marinho e saltos agulha, braços estendidos ao longo do corpo, levava na mão direita, guardada na palma fechada, uma moeda brilhante.
Ao primeiro pedinte, sentado junto à sarjeta, por qual passou sem nem baixar os olhos, doou a moeda jogando-a no colo encardido dele.
E numa fração de segundo ela olhou para trás, procurando a cumplicidade de um estranho que tivesse acompanhado a cena e que pudesse julgá-la, como tanto desejava no fundo da alma.
Sim, que esse desconhecido a tomasse por uma boa mulher, dotada de compaixão ímpar e que a invejasse em sua bondade e carisma.
O cinza do céu tinha-lhe enganado: pois encontrou um rosto que a mirava e que seguia seu andar com os olhos. Um alguém a quem podia mostrar-se, ainda que mentirosa.
E então ela sentiu correr por todas as suas veias um calor. O único calor que a aquecia.
A moça enrubesceu e sorriu porque sua velha companheira vaidade, a quem amava como uma cadela, estava ali de novo, para dar-lhe segurança.

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