Eu era criança ainda quando descobri esse buraco sem fundo chamado solidão, que me acompanha diariamente no meu para sempre. Tinha medo de sua feiúra e escuridão, das coisas estranhas que me dizia antes de dormir... Mas minha inquietação durou pouco: peguei na mão de minha mãe e segui com ele, o vazio de todos, me acostumando à sua constante presença.
Devagar, percebi que a solidão podia ser uma boa companhia, já que me proporcionava momentos de profunda inspiração, além de me confessar verdades que ninguém jamais teria coragem de me contar. E quanto mais gente eu conhecia e amava, mais esse buraco aumentava, crescia para os lados e para cima, tomando conta de tudo.
Já na juventude, eu quis amar mais e conhecer tantas outras pessoas, na intenção vã de preenchê-lo.
Ah, então veio aquele mar de dor: vi com olhos esbugalhados como eu era só e que não havia remédio para curar o que é sina de toda a gente. Chorei pelos cantos, incompreendida, sem compreender nada.
E de aguar-me sem nenhuma compostura, aprendi que a solidão poderia ser minha salvação, buraco guardador de segredos e apanhador de sonhos.
Agora, já mais velha mas nem tanto assim, percebo minha solidão (que em verdade, é nossa) com olhos mais serenos. Encanta-me saber que esse buraco é só meu, um fundo particular, com quem compartilho ideias luminosas, pequenos prazeres e incontáveis lágrimas; meu fiel amigo a quem revelei meu melhor e meu pior.
Peguei na mão da solidão e sigo com ela.
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