I
De traço delicado
E alvura sem igual;
O corpo desenhado:
Era a face de um dragão.
Abria, envergonhado,
Ao menor sinal
De um som tilintado:
Era o fim da solidão.
Esperava noite e dia
Guardando o melhor doce
Em que ela se banharia...
Ah, como queria
Que quando ela fosse,
Desse certeza que voltaria!
II
De porte importado
E chapéu de sisal;
O dorso tatuado:
Era um nome escrito à mão.
Sorria, encabulado,
Ao menor sinal
De um brilho prateado:
Findava sua escuridão.
Mas, nervoso, ele via
Ela dançando noutra mão!
E assim tudo acabaria...
Revoltado de paixão,
Lá do alto pularia
Para espatifar-se ao chão.
III
Todo o doce desse amor,
Derramado sem pudor.
"O açucareiro e a colher"
terça-feira, 23 de julho de 2013
sábado, 20 de julho de 2013
Sem e Com Você
I
Deitar sem descanso
Dormir com remédios
Vestir-se sem apreço
Passear com culpa
Pensar sem silêncio
Remoer com hipóteses
Acordar sem vontade
Abraçar com medo
Seguir sem rumo
Caminhar com tropeço
Passar sem lembrar
Cansar com calendário
Recostar sem sossego
Rever com terapia
Chorar sem plateía
Sangrar com demora
Perguntar sem respostas
Rasgar-se com raiva
Levantar sem prumo
Viver com saudade
Relembrar sem paz
Sentir com alma
Gritar sem som
Amar com vísceras
II
Sofrer sem tempo
Pedir com fé
Sedimentar sem dor
Curar com paciência
Planejar sem pressa
Eternizar com carinho
III
Tua vida na minha
Com começo e sem fim
Deitar sem descanso
Dormir com remédios
Vestir-se sem apreço
Passear com culpa
Pensar sem silêncio
Remoer com hipóteses
Acordar sem vontade
Abraçar com medo
Seguir sem rumo
Caminhar com tropeço
Passar sem lembrar
Cansar com calendário
Recostar sem sossego
Rever com terapia
Chorar sem plateía
Sangrar com demora
Perguntar sem respostas
Rasgar-se com raiva
Levantar sem prumo
Viver com saudade
Relembrar sem paz
Sentir com alma
Gritar sem som
Amar com vísceras
II
Sofrer sem tempo
Pedir com fé
Sedimentar sem dor
Curar com paciência
Planejar sem pressa
Eternizar com carinho
III
Tua vida na minha
Com começo e sem fim
quinta-feira, 18 de julho de 2013
Mão
Mão que afaga e tece
Que trama um cordão de contas
Mão que esmaga e escreve
Que caleja dos dedos as pontas
Mão que acena e segura
Que estapeia, torce e empunha
Mão que apoia e esfrega
Que treme, acarinha e se entrega
Mão que constrói e suplanta
Que destrói, aponta e nega
Mão de amor e de cura santa
Que planta, aduba e rega
Queria a mão, assim bem gigante!
E que ela pudesse reter o tempo
Em que se ama e se á amado.
Que trama um cordão de contas
Mão que esmaga e escreve
Que caleja dos dedos as pontas
Mão que acena e segura
Que estapeia, torce e empunha
Mão que apoia e esfrega
Que treme, acarinha e se entrega
Mão que constrói e suplanta
Que destrói, aponta e nega
Mão de amor e de cura santa
Que planta, aduba e rega
Queria a mão, assim bem gigante!
E que ela pudesse reter o tempo
Em que se ama e se á amado.
Ao Deitar
O silêncio não está.
Bato à porta, o procuro...
Em vão.
São tantos os ruídos:
Infinito sonoro do pensar.
Nem na mata,
Lá no céu,
No fundo do oceano
Ou na embalagem hermeticamente fechada do café.
Sim, ele se foi.
E eu o quero para mim.
Um minuto sem som,
Um tempo só vazio.
Então seria bom.
Eu poderia ouvir a menina calada de mim,
Aquela que dorme e que eu amo.
Mas o silêncio não está.
Bato à porta, o procuro...
Em vão.
São tantos os ruídos:
Infinito sonoro do pensar.
Nem na mata,
Lá no céu,
No fundo do oceano
Ou na embalagem hermeticamente fechada do café.
Sim, ele se foi.
E eu o quero para mim.
Um minuto sem som,
Um tempo só vazio.
Então seria bom.
Eu poderia ouvir a menina calada de mim,
Aquela que dorme e que eu amo.
Mas o silêncio não está.
Todo o Amor
Sol
Céu
Mar
Som
Rio
Ar
Fogo
Terra
Flor
Chuva
Mato
Cor
Pedra
Planta
Bicho
Cheiro
Nuvem
Estrela
Você
Tudo foi o amor que fez.
Céu
Mar
Som
Rio
Ar
Fogo
Terra
Flor
Chuva
Mato
Cor
Pedra
Planta
Bicho
Cheiro
Nuvem
Estrela
Você
Tudo foi o amor que fez.
domingo, 14 de julho de 2013
Frida
Figurava em meio a multidão
Tua presença ímpar de calor,
Olhos brilhantes e sem razão
Emoldurados por dias de dor.
O teu corpo, belo e fiel registro
Das tentativas de consertar-se,
Exalava paz e horror, um misto,
Tuas verdades, sem disfarce.
Como nunca, entintava a tela
E fazia do caminho sua beleza.
Picada em mil pedaços vinha ela:
Frida envolta em própria riqueza.
Tuas cores, cheiro e pelos,
Era graça atemporal e doentia.
Ah! teu pincel... queria sê-lo
Para pintar o amor que me valeria.
Tua presença ímpar de calor,
Olhos brilhantes e sem razão
Emoldurados por dias de dor.
O teu corpo, belo e fiel registro
Das tentativas de consertar-se,
Exalava paz e horror, um misto,
Tuas verdades, sem disfarce.
Como nunca, entintava a tela
E fazia do caminho sua beleza.
Picada em mil pedaços vinha ela:
Frida envolta em própria riqueza.
Tuas cores, cheiro e pelos,
Era graça atemporal e doentia.
Ah! teu pincel... queria sê-lo
Para pintar o amor que me valeria.
quarta-feira, 10 de julho de 2013
A Questão
Cafezinho de coador
Uma dúzia de moedas
Carinho de mãe
Um dia na praia
Uma mordida num bombocado
A vida do teu filho
Calcinha combinando com sutiã
Um gole de vodka
Histórias de assombração
Ir à festa sem ser convidado
Gol do seu time aos 45
Lençol de algodão egípcio
A pipa no céu
Muito dinheiro no banco
Livro novo e quase esgotado
Um par de sapatos Prada
Fotografia da família reunida
O carro do ano
Casamento feliz
Um banho morno no fim do dia
Pai Nosso na cama
Um filme B no cinema
Seu poodle abanando o rabo
Bandeirinhas de festa junina
Músicas de Beethoven
Um passeio de bicicleta
Álbum de figurinhas completado
O Papa
Uma cantada na rua
Colesterol baixo
Barzinho com os amigos
Um beijo roubado
Massagem nos pés logo cedo
Docinhos de festa
Gostar do próprio corpo
Cachoeira nas costas
Uma dúzia de moedas
Carinho de mãe
Um dia na praia
Uma mordida num bombocado
A vida do teu filho
Calcinha combinando com sutiã
Um gole de vodka
Histórias de assombração
Ir à festa sem ser convidado
Gol do seu time aos 45
Lençol de algodão egípcio
A pipa no céu
Muito dinheiro no banco
Livro novo e quase esgotado
Um par de sapatos Prada
Fotografia da família reunida
O carro do ano
Casamento feliz
Um emprego bem remunerado
Orgasmos múltiplosUm banho morno no fim do dia
Pai Nosso na cama
Um filme B no cinema
Seu poodle abanando o rabo
Bandeirinhas de festa junina
Músicas de Beethoven
Um passeio de bicicleta
Álbum de figurinhas completado
O Papa
Uma cantada na rua
Colesterol baixo
Barzinho com os amigos
Um beijo roubado
Massagem nos pés logo cedo
Docinhos de festa
Gostar do próprio corpo
Cachoeira nas costas
Biscoitos amanteigados
Cheiro de roupa nova
Sombra de árvore
Vinho branco na taça correta
Bolsa sem buraco negro
Blusa quente em dia gelado
Uma oração para Oxalá
Orquídea em flor
Garoa fina na madrugada paulista
A palavra certa para a poesia
Um telefonema tão esperado
A Xuxa
A aspereza do sertão
Uma unha desencravada
Um Degas aquarelado
A gostosa da revista
Carta de gente bem distante
Escolher o nome do bebê que vem
Viajar de mochila e chinelo
Um cachorro quente prensado
Elogio do chefe
Amassos no elevador
Brincar com os sobrinhos
Sair transformada do cabeleireiro
As ruas sem trânsito no feriado
Promoção leve 3 pague 2
Encontro romântico
Passarinhos cantando de manhã
Sumir de caso pensado
Então, o que te faz feliz?
Monstro
Envolto em couro de dromedário,
Dois dedos nos pés, como o avestruz.
No peito batia um coração solitário,
Feito de glacê e coberto de alcaçuz.
Por fora, o corpo medonho e nojento...
Dono de um talho na fronte ovalada,
Deixava escorrer um azul sangrento
Que formava a poça onde descansava.
Mas por dentro, o monstro se desfazia
De tanta carência e falta de amor.
Desinformado, ele próprio nem sabia,
De sua beleza escondida no horror.
Todo tempo, imerso em feiúra e maldade,
Havia esquecido o menino que era...
Olhos desconfiados, em qualquer parte
De seu dorso roxo e enrugado de fera,
Fitavam, atônitos, nos outros o medo:
vastos espelhos do seu negado eu.
E comia-lhes até a ponta dos dedos
Para que não lhe tomassem o que era seu.
A noite a lua minguava e o mundo dormia
Enquanto o grotesco, coitado, chorava...
De pesadelos, lembranças e esquizofrenia;
De remorso, pavor, tristeza e dor calada.
Debaixo do céu, ele reinava soberano,
Sentado em seu trono de chifres de boi;
Mas ninguém sabia do seu único plano:
Proteger a memória de quem realmente foi.
Dois dedos nos pés, como o avestruz.
No peito batia um coração solitário,
Feito de glacê e coberto de alcaçuz.
Por fora, o corpo medonho e nojento...
Dono de um talho na fronte ovalada,
Deixava escorrer um azul sangrento
Que formava a poça onde descansava.
Mas por dentro, o monstro se desfazia
De tanta carência e falta de amor.
Desinformado, ele próprio nem sabia,
De sua beleza escondida no horror.
Todo tempo, imerso em feiúra e maldade,
Havia esquecido o menino que era...
Olhos desconfiados, em qualquer parte
De seu dorso roxo e enrugado de fera,
Fitavam, atônitos, nos outros o medo:
vastos espelhos do seu negado eu.
E comia-lhes até a ponta dos dedos
Para que não lhe tomassem o que era seu.
A noite a lua minguava e o mundo dormia
Enquanto o grotesco, coitado, chorava...
De pesadelos, lembranças e esquizofrenia;
De remorso, pavor, tristeza e dor calada.
Debaixo do céu, ele reinava soberano,
Sentado em seu trono de chifres de boi;
Mas ninguém sabia do seu único plano:
Proteger a memória de quem realmente foi.
terça-feira, 9 de julho de 2013
Rua
Ajuntados, sozinhos, perambulando
Uns moços, outros velhos, desejando
Gestos, beijos, goles e acenos...
Urge o tempo de sorrir para a rua!
Saias, cuturnos, olhares obscenos
Tudo convive sob a mesma lua.
A noite é curta para tanto querer.
Uns moços, outros velhos, desejando
Gestos, beijos, goles e acenos...
Urge o tempo de sorrir para a rua!
Saias, cuturnos, olhares obscenos
Tudo convive sob a mesma lua.
A noite é curta para tanto querer.
sexta-feira, 5 de julho de 2013
Do Amor
I
Era bem querer
E querer demais
Não o querer qualquer
Nem um querer jamais
E no bem-me-quer
De querer meu bem
Meu bem quis também
Todo o bem da paz
E juntos queridos
Amamos bem e mais
II
Quero-quero na janela
Manhã de sol
O meu bem é ela
Sol da manhã
E eu querendo mais...
Era bem querer
E querer demais
Não o querer qualquer
Nem um querer jamais
E no bem-me-quer
De querer meu bem
Meu bem quis também
Todo o bem da paz
E juntos queridos
Amamos bem e mais
II
Quero-quero na janela
Manhã de sol
O meu bem é ela
Sol da manhã
E eu querendo mais...
segunda-feira, 1 de julho de 2013
Urgente
I
Vem!
Repara e ouve isso tudo.
É a urgência de viver:
Minutos felizes
No para sempre do agora.
II
Não perca a lágrima,
O grito,
O giro da saia,
O beijo na boca,
O vento no rosto,
O cheiro do mato,
O quente do banho,
O gosto da fome saciada...
III
Vem ver o abrir da asa
Da linda borboleta
Ao sair do casulo.
A flor de laranjeira,
Que de ontem para hoje
Tocou de um branco puro
O verde do teu jardim.
Repara o doce sorriso
Primeiro do bebê
Ao ver o rosto da mãe.
A mão do molequinho
Que toca, em timidez,
A palma da menina
A qual quer tanto bem.
Ouve o canto da senhora,
Varrendo o quintal,
Ao sol dessa manhã.
O som da mordida
Em delicioso biscoito,
Crocante e salgado
Em seu desjejum.
Tem tanta coisa para viver...
Acorde leve para a luz do dia!
Vem!
Repara e ouve isso tudo.
É a urgência de viver:
Minutos felizes
No para sempre do agora.
II
Não perca a lágrima,
O grito,
O giro da saia,
O beijo na boca,
O vento no rosto,
O cheiro do mato,
O quente do banho,
O gosto da fome saciada...
III
Vem ver o abrir da asa
Da linda borboleta
Ao sair do casulo.
A flor de laranjeira,
Que de ontem para hoje
Tocou de um branco puro
O verde do teu jardim.
Repara o doce sorriso
Primeiro do bebê
Ao ver o rosto da mãe.
A mão do molequinho
Que toca, em timidez,
A palma da menina
A qual quer tanto bem.
Ouve o canto da senhora,
Varrendo o quintal,
Ao sol dessa manhã.
O som da mordida
Em delicioso biscoito,
Crocante e salgado
Em seu desjejum.
Tem tanta coisa para viver...
Acorde leve para a luz do dia!
Peso
Sacolas de roupas velhas
Doadas para gente estranha.
Cartas e postais e bilhetes
Queimam, sós, na lareira.
O relógio engavetado
Na penteadeira do quarto.
Os cartões bancários
Cortados ao meio.
As bolsas aposentadas
- em armários velhos -
Não gritam obscenidades.
Poemas pela metade
Rasgados em pedacinhos.
Anotações e cadernetas
Dormem no lixo reciclável.
Retratos voltados à parede
Fitam, perplexos, o látex
E nem olham mais para ela.
Números telefônicos
Apagados e sem destino.
Livros e lembranças
Encaixotados num porão.
As xícaras pintadas à mão
Foram para a casa da tia.
O carro? Vendido.
A casa? Leiloada.
Agora, mais leve.
Doadas para gente estranha.
Cartas e postais e bilhetes
Queimam, sós, na lareira.
O relógio engavetado
Na penteadeira do quarto.
Os cartões bancários
Cortados ao meio.
As bolsas aposentadas
- em armários velhos -
Não gritam obscenidades.
Poemas pela metade
Rasgados em pedacinhos.
Anotações e cadernetas
Dormem no lixo reciclável.
Retratos voltados à parede
Fitam, perplexos, o látex
E nem olham mais para ela.
Números telefônicos
Apagados e sem destino.
Livros e lembranças
Encaixotados num porão.
As xícaras pintadas à mão
Foram para a casa da tia.
O carro? Vendido.
A casa? Leiloada.
Agora, mais leve.
Pássaros
Os periquitos domesticados possuem as asas cortadas, mas também já não há ventania boa que faça a gaivota planar. O que os une é o canto.
Fardo
E numa fração de segundo,
O corpo pesa o tanto do mundo.
O pensamento, o peito, os poros,
Tudo em mim carrega você.
O corpo pesa o tanto do mundo.
O pensamento, o peito, os poros,
Tudo em mim carrega você.
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