domingo, 10 de maio de 2015

Crônica de Uma Professora Perseverante

Alguns corriam pela sala. Outros zombavam dos colegas. Um se arrastava no chão. Outro, inquieto, o tempo todo de pé. Três pediam para ir ao banheiro ao mesmo tempo. No auge de seus 7 anos, as crianças não conversavam: elas gritavam, aos berros umas com as outras. Durante uns 20 minutos tentei todas as estratégias para iniciar mais uma aula. Fui branda, fui enérgica, esperei silêncio, voltei a porta e entrei de novo. Sorri, chamei a atenção, fui amorosa, falei bem baixinho, estava para gritar quando decidi que era melhor ir embora e deixar a sala, talvez com alguém mais competente do que eu para o dia de hoje. Mas não fui. Fui convencida a ficar e tentar mais um pouco. E algumas coisas ficaram em meu coração, doídas:


"a gente grita porque todo mundo grita."

"mas eu não estou gritando com vocês, eu não gosto de gritar."

"a gente sabe que você não grita mas a gente acostumou."

"mas vocês são inteligentes, entendem o que a prô está dizendo, não precisam gritar uns com os outros."

"eu não sou inteligente."

"claro que é, todos somos."

"não, eu não sou, sou burro."

"e eu sou só um pouco inteligente."


Estamos todos, alunos e professores, despedaçados. Uma criança acaba de entrar na escola e não confia mais nela mesma. Eu ainda não sei, depois de 10 anos lecionando, que caminho seguir com algumas crianças. Todos estão gritando e pedindo socorro.
Uma certeza em mim ficou hoje: seguir o coração e ouvir com atenção ainda é o que nos salva da loucura.

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